Egüinha, uma ova!

Falar do baixo nível das músicas veiculadas na mídia atualmente chega a ser redundância. Analisar o fator feminino nestas músicas, não é tão redundante, mas ofensivo. E o leitor há de concordar. Há aquele grupo de mulheres, indignas do gênero que, sem atinar muito ao seu redor, acham “legal” serem chamadas de “égua” e ouvir desaforos como quando comparam-nas com a fêmea do cavalo com gracejos do tipo “pocotó, pocotó, pocotó”. Afinal, não dá para esperar muito de imbecis que crêem piamente ser bom nível o tratamento como mero objeto sexual para mentes depravadas.

Felizmente, ainda existe um outro grupo que percebe as atrocidades cometidas contra a moral feminina em músicas depreciativas como a citada e outras tantas. Todavia, pecam por considerar ser o passado reduto de respeito para com a mulher. Isso porque, considerando friamente as músicas do século passado, em meados de 1930 em diante, apesar das boas e românticas músicas existentes – o que, embora raro, também existe hoje -, o que muito fazia sucesso eram as cantigas que tratavam a mulher como mero instrumento sexual (de novo), como safada e depravada, ou quando muito – “elogiosamente” -, reles serviçal doméstica.

As músicas ouvidas nas rádios dos áureos tempos não eram tão melhores como teimam alguns. Suas letras apelavam para a degeneração das mulheres, colocando-as num patamar inferior na sociedade. Cantigas que cobravam a fidelidade, como se todas as mulheres fossem infiéis, ou que as mandavam trabalhar e sustentar o seu companheiro com prostituição como a de Osvaldo Ribeiro e Walfrido Silva, de 1933 – que cantava “nega, por favor/vai pro batedor/vai cavar a nota que eu preciso/tu não tem juízo e às vezes esqueces/que no meu amor há interesse” – raramente são lembradas e pesadas nessa balança.

Às vezes se lembra de algumas como Ai, que saudade da Amélia (de Francisco Alves e Mário Lago) – que dizia “aquilo sim é que é mulher/Amélia não tinha a menor vaidade/Amélia é que era mulher de verdade” – e acha-se graça em ouvir os descabidos infortúnios cantados para as mulheres, como se estas só prestassem para o trabalho doméstico.

Como há séculos, os homens não mudaram muita coisa. Seus cérebros com mais neurônios só servem (perdoem a generalização) para produzir mais asneiras. A depreciação da mulher na música brasileira não é de hoje e não vai parar pelo simples fato de que algumas mulheres, tanto ontem como hoje, simplesmente não se dão valor. Não entendem o que fazem com elas e ainda dançam e rebolam ao som de infâmias ao seu respeito.

Em contrapartida, não podemos deixar de reconhecer um fenômeno um tanto quanto moderno. A mulherada, descendo ao nível dos homens, parece estar reivindicando certa posição ou, pelo menos, indo à forra, vingando-se por anos de “maus-tratos” na música. E o fazem ao som da eleita para esta tarefa, a tão aclamada musa teen, Kelly Key.

Delirantemente, fazem caras e bocas e, tão inconvenientemente, berram “baba baby”. Como se o fato de cantarolarem “Vem aqui, que agora eu tô mandando, vem meu cachorrinho, a sua dona tá chamando”, as fizessem vingadas. Sabe-se lá o que se passa pelas louras cabeças, mas o fato é que não se dão conta de que pisoteando o português e o resto de moralidade, não resolvem o problema do baixo nível das músicas que tratam de mulher, só afundam mais o buraco.

Nesse pandemônio de “Vai Serginho”, “Baba baby”, “Vem meu cachorrinho a sua dona tá chamando”, “desce na boquinha da garrafa”, entre outros, a vontade que dá é de pegar uma “egüinha” e fazer pocotó, pocotó, pocotó, até não escutar mais nada disso, “só olhar, só olhar”, ou melhor, nem olhar.

Fabiana Amaral é aluna do 3.º ano de Jornalismo do Unasp e editora especial da revista
Canal da Imprensa (

www.canaldaimprensa.com.br).

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