Egos inflados

O PMDB vive atualmente uma série de contradições e interesses difusos entre facções que perderam a capacidade de dialogar em torno de teses comuns, a ponto de um certo componente governista situado na cúpula dirigente arrogar-se o direito de manter sob seu talante a economia interna do partido. O figurante mais articulado desse grupo marcado pelo vezo da dominação é o senador alagoano Renan Calheiros, presidente do Senado da República. Não menos importantes na formulação do ideário da falange que, aparentemente, desconhece a história e o legado cívico do partido, são os também senadores José Sarney (AP) e Ney Suassuna (PB), e o deputado federal Jader Barbalho (PA).

Depois de terem feito o possível para esvaziar a prévia que indicou o candidato à Presidência da República, ex-governador Anthony Garotinho, numa atitude oposta ao compromisso de respeitar as práticas internas, sobretudo quando não se estabelece conflito com o programa partidário, os chamados governistas não se afastaram um milímetro da faina de espalhar a idéia de que – afinal – o escolhido que acabou não levando não conseguiria unir o PMDB e, tampouco, teria fôlego para enfrentar a disputa eleitoral.

A prévia foi rebaixada à condição de simples consulta e seu resultado não bastou para referendar o lançamento da candidatura de Garotinho, aliás hoje sob suspeita de ter recebido doação de R$ 650 mil de empresas inidôneas e com endereços fictícios.

A última cartada em voga na disputa intestina pelo comando do espólio do grande partido da redemocratização emanou do grupo histórico, mediante o ?lançamento? de mais um pré-candidato, o ex-presidente Itamar Franco, num lance oportunista arquitetado pelo ex-governador Orestes Quércia, com a ajuda do deputado cassado José Dirceu, aquele a quem o procurador-geral da República chama de ?chefe da quadrilha? que inventou o mensalão, o caixa 2 e deu força ao valerioduto.

Absorvido o primeiro impacto pelos governistas e transposta a apreensão que desabou sobre a autoconfiança do próprio Garotinho, que a princípio não teve como amenizar o estrago provocado pelo golpe desferido contra suas pretensões, a súbita disposição de Itamar foi atomizada por ferino comentário do senador Renan Calheiros, para quem ?o ex-presidente está apenas querendo se divertir?.

Os simpatizantes do PMDB e os demais eleitores observam, decerto decepcionados pelo enfado, esse péssimo exemplo de convivência dos passageiros do partido-ônibus e a fluência do entrechoque pela apropriação do controle da estrutura partidária, ou parte dela, além de expor o esgarçamento dos ideais que outrora galvanizaram as aguerridas fileiras da agremiação, hoje transformada num repositório de egos inflados e políticos abastardados pelo exercício do compadrio.

Os governistas não admitem candidatura própria à Presidência, não por se sentirem previamente partícipes da iminência de mais um fracasso eleitoral. Esses senhores estão dispostos a mover montanhas, mas por outros motivos. O que buscam com sofreguidão é evitar o risco crucial de perder o comando de alguns ministérios, de não poderem indicar diretores de empresas estatais ou de setores vitais da administração federal. Nada mais.

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