A Previdência Social brasileira é uma bomba armada para explodir a médio e longo prazos. A constatação é do ministro Nelson Machado, para quem os sinais mais concretos de problemas cabeludos nos próximos anos dizem respeito à previdência rural. A previdência urbana apresentou déficit de R$ 3,8 bilhões no ano passado, mas o ministro concede que medidas corretivas adequadas deverão resolver a questão até o final do mandato.
Nas contas do governo, há sempre uma margem razoável para o otimismo e, no caso em foco, a esperança é que o País passe a viver uma fase auspiciosa de aumento sustentado da oferta de empregos, de tal maneira que haja maior número de trabalhadores com carteira assinada, contribuindo para a Previdência Social. Segundo o ministro, esta é uma expectativa para o médio prazo, o que não deixa de ser confortador para os milhões de brasileiros em busca da mirífica inserção no mercado de trabalho.
O desafio angustiante, de acordo com o panorama esboçado pelo ministro, ainda está no futuro, mas vai chegar. Seu impacto socioeconômico será tanto mais agudo, se as tais providências corretivas continuarem a ser procrastinadas, como é do feitio dos governantes.
Machado informou que em 2050, compulsando dados do IBGE, haverá 14 milhões de pessoas com mais de 80 anos, quando hoje esse contingente não excede dois milhões. O fórum recém-instalado pelo presidente Lula, portanto, agirá de forma correta ao prospectar todas as simulações possíveis, no sentido de assentar as bases para resolver questões atinentes ao financiamento da previdência, diante das mudanças etárias da população e da demanda por trabalhadores.
A aposentadoria rural custa hoje para o governo R$ 32,36 bilhões, para uma arrecadação líquida de R$ 3,8 bilhões. O pesado déficit de R$ 28,56 bilhões foi etiquetado pelo ministro da Previdência como ?gasto social?, porquanto seus beneficiários não fizeram contribuições de acordo com as exigências legais.
Com o tempo, espera o ministro, o número de trabalhadores urbanos vai crescer e, aos poucos, o déficit da previdência rural tende a ser absorvido. Navegar é preciso, poetava Fernando Pessoa repetindo os gregos. Sonhar, idem.