O senador Eduardo Azeredo deixará a presidência do PSDB antes da convenção nacional convocada para eleger o senador Tasso Jereissati (CE) seu substituto no dia 18 de novembro. Quem vai passar o cargo a Tasso é o prefeito José Serra, ex-presidente do partido que deixou o posto para assumir a administração de São Paulo. Desconfortável com o envolvimento de Azeredo na lista dos que receberam recursos do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, a cúpula tucana tenta afastar a legenda da crise e já negocia com o senador mineiro a saída política de tirá-lo dos holofotes da convenção nacional.

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O episódio Azeredo agravou-se no fim de semana, com a notícia de que ele recebeu um cheque de R$ 700 mil de Marcos Valério para cobrir despesas de sua campanha derrotada ao governo, em 1998. Líderes do PSDB e do PT estão preocupados com o desdobramento do episódio, receosos de que as acusações a Azeredo acirre os ânimos da oposição acabe produzindo uma guerra de denúncias. Petistas e aliados do governo temem o envolvimento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de sua família.

"Não quero incêndio. Tenho receio de que este episódio aumente a disputa política e atrapalhe os trabalhos da CPI", resumiu hoje (24) o relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio (PMDB-PR). Na avaliação do deputado, o mais grave é o uso do caixa 2 da campanha, que já está sendo investigado. Além disso, destacou Serraglio, ao menos por enquanto não há prova de que Azeredo mentiu à CPI. "Não posso afirmar se ele sabia ou não da existência do cheque do Marcos Valério", disse o relator, para repetir em seguida a frase que mais se ouve dos tucanos nos últimos meses: "Se admito que o Lula podia não saber, porque o Azeredo tinha necessariamente de saber".

Encarregado de negociar uma saída política com Azeredo, o líder tucano no Senado, Arthur Virgílio Neto (AM), não dá o braço a torcer. "Estamos no máximo passando por uma saia justa e o aparecimento do cheque não muda nada", diz Virgílio, ao salientar que "até no caixa 2 do Eduardo tem um ministro de Lula envolvido". Referiu-se ao fato de o ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, ter sido citado por Azeredo como amigo e autor de um empréstimo junto ao Banco Rural usado para quitar a dívida com Marcos Valério. "Estou louco para acabar com essa amizade dos dois, porque o Walfrido o engana há muito tempo e o Eduardo é muito ingênuo; se deixa enganar", disse Virgílio.

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Nada será feito no PSDB à revelia de Azeredo e também não haverá destituição. A volta de Serra ao comando partidário poderá ocorrer até na véspera da convenção do dia 18. Mas o tucanato está convencido de que a melhor estratégia é sustentar o discurso da "simbologia" política da unidade partidária na convenção. Traduzindo: com Serra "passando a faixa" de presidente do partido a Tasso, um ex-adversário que votou no PT em 2002, o PSDB dará uma demonstração de força e unidade, com a vantagem de descolar a convenção partidária da crise política das denúncias do mensalão.

Arthur Virgílio admitiu hoje que o esquema do caixa 2 na campanha mineira é reprovável, mas defendeu a tese de que o episódio caducou. "Seja do ponto de vista jurídico eleitoral e jurídico penal, salientou, está tudo prescrito". Bem diferente da situação do PT. "O Lula está ao alcance da gente", ameaçou.

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Serraglio garantiu que jamais fez acordo para poupar quem quer que seja em seu relatório e disse que não será diferente com Azeredo. "Podem ter a certeza de que não vamos encerrar a CPI dos Correios sem esclarecer este episódio". Ao mesmo tempo, porém, afirmou que Azeredo só será ouvido "se não tiver outro caminho", já que a CPI dos Correios não investiga quem usou o dinheiro, e sim quem deu.