Cada vez que fala, Edílson Pereira de Carvalho aumenta a confusão que tumultua o futebol brasileiro desde a descoberta do esquema de manipulação de resultados dos jogos para beneficiar apostadores em sites da internet. O ex-árbitro não se mostrou surpreso, nesta terça-feira, com as suspeitas de fraude em torno de partidas do Campeonato Paulista deste ano e garantiu que interferências eram rotineiras no torneio estadual.
"A Federação Paulista sempre me pediu para fazer resultados", afirmou Edílson Pereira de Carvalho para a Agência Estado, mas sem identificar quem supostamente o pressionava na FPF. "Me ligavam e diziam: ‘Olhe com bons olhos aquela partida’", contou.
"Sempre fiz isso e não ganhei nada", garantiu Edílson. E emendou. "Deviam fazer o mesmo também com outros árbitros. Isso não é de hoje e está em meu depoimento na Polícia Federal. Não sei porque, até agora, não divulgaram."
A afirmação, no entanto, é contestada por José Reinaldo Carneiro, um dos promotores que investigam o escândalo na arbitragem. "Tudo o que ele falou, nos depoimentos, diz respeito ao esquema com Nagib Fayad", garantiu, ao referir-se ao empresário que encabeçava o grupo que tentava interferir em jogos de futebol.
O presidente da FPF, Marco Polo Del Nero, afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que jamais teve contato com Edílson Pereira de Carvalho.
Reclusão
O ex-árbitro passa a maior parte do tempo em casa, em condomínio fechado em Jacareí, e ainda não sabe o que fazer da vida. A estratégia, por enquanto, é a de esperar "as coisas esfriarem", para em seguida procurar novo emprego, uma vez que perdeu sua maior fonte de renda. "Tenho amigos, parentes, que podem me dar nova oportunidade em outro ramo", explicou Edílson. "Tenho dois braços, duas pernas e uma família para sustentar."
Mas ele admite preocupação com seu futuro financeiro. "Antes, eu ganhava R$ 2,5 mil por partida", informou Edílson. "Agora, sei que não ganho mais nada e terei de gastar muito com casa, comida e advogados", lamentou. "Minha mulher é secretária, ganha R$ 450 por mês… Mas, fazer o quê? Estou pagando caro pelo meu erro."
Edílson sai muito pouco de casa, desde que deixou a prisão na semana passada, após confessar a manipulação de resultados e passar a ajudar nas investigações policiais. Nos contatos esporádicos que teve com o público, ficou com a sensação de que as pessoas se decepcionaram mais com a corrupção no esporte do que na política.
"O caso está tendo essa repercussão toda porque sou árbitro de futebol", afirmou Edílson. "Meu erro chocou mais do que as denúncias contra políticos, que sempre roubaram e não é novidade para ninguém."