Juca Kfouri tentou livrar Alberico Souza Cruz da culpa da malfadada edição do segundo debate de 1989 dos candidatos à Presidência, chamando a jornalista Mônica Bergamo, da Folha, de mentirosa. Para reforçar seu artigo no Observatório da Imprensa, Kfouri usou uma confissão de Ronald de Carvalho, editor do Jornal Nacional na época, assumindo a responsabilidade.

Em 1993, a BBC produziu um programa sobre Roberto Marinho, o “Cidadão Kane Brasileiro”, narrando a história da imprensa brasileira e sua relação com os negócios da política nacional. O fato de maior repercussão se refere à manipulação da edição do debate final de 89 entre Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Mello.
Collor e Lula foram para o segundo turno. Lula claramente venceu o primeiro debate. Três dias antes da votação houve um segundo debate. No dia seguinte, o Jornal Nacional transmitiu um resumo editado em seis minutos assistidos por 64% da audiência. Segundo a BBC, “o programa foi previamente montado para deter Lula e eleger Collor”. Cid Moreira apresentou os resultados destacando quem venceu o debate.

O instituto de pesquisas Vox Populi, pertencente a Marcos Antônio Coimbra (enteado de Ledinha, irmã de Collor), contabilizou 48% para Collor e 31% para Lula.
A BBC questionou por que a Globo deixou de perguntar em quem o eleitor iria votar. O inusitado ficou por conta do âncora do debate, Alexandre Garcia, da própria Globo, que declarou em nome do patrocinador Roberto Marinho, disponibilizar um “canal aberto para que melhor se exerça a democracia”. Logo ele que fora assessor do SNI – Serviço Nacional de Informações – durante o regime militar.

A edição imparcial de Wianey Pinheiro para o Jornal Hoje foi modificada para o Jornal Nacional. O que Kfouri desconsidera, a BBC gravou. Pinheiro acusa que “o resumo do debate foi alterado pelo Alberico Souza Cruz e pelo Ronald de Carvalho na essência”. Kfouri não consultou, como todo bom jornalista, a Pinheiro. Armando Rollemberg, ex-presidente da Fenaj, considerou a edição “uma manipulação sem-vergonha”.

Devido ao mal-estar causado pela produção pró-Collor, muitos resolveram protestar, rotulando Souza Cruz como o vilão da patética edição. E tudo isso foi gravado pela BBC. Armando Nogueira, chefe de jornalismo, protestou contra Roberto Marinho, alegando que a edição fora produzida à revelia dele.
“Foi infeliz. A Rede Globo fez uma edição burra. Burra, porque não precisava ser burra”, extravasou.

“Com o resumo grosseiro, a aproximação de 1% da sexta-feira apresentou um diferencial de 4% no domingo”, explicou Carlos Matheus, diretor da Gallup-Brasil. Por haver protestado publicamente do resultado da noite, Pinheiro foi demitido. Nogueira, após a privativa reclamação diante de Marinho, acabou aposentado e substituído por Souza Cruz. Se Ronald tinha pretensões e se responsabiliza, segundo revelações de Kfouri, por que a promoção contemplou Souza Cruz, até então abaixo de Nogueira na hierarquia?

Kfouri viaja sem rumo certo tentando proteger o amigo “injustiçado” com uma confissão que pode muito bem ter sido forjada. Com certeza Mônica não desconhece os fatos relacionados à covarde edição de 89.

Ruben Dargã Holdorf é Jornalista e professor universitário na Grande Campinas.
e-mail: dargan_holdorf@hotmail.com
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