Economistas criticam real valorizado em debate na Câmara dos Deputados

Economistas reunidos nesta quarta-feira (15) no primeiro dia do seminário "Caminhos do Crescimento", na Câmara dos Deputados, concordaram que a taxa de câmbio valorizada tornou-se um dos principais obstáculos à expansão da atividade econômica desde o ano passado. Receitaram o corte nos gastos com a máquina pública como pré-condição para a redução da taxa básica de juros. Nas discussões, entretanto, sobressaiu a crítica à ineficiência da política de flutuação do câmbio, que prevê uma administração cautelosa do Banco Central.

"A taxa de câmbio tende a chegar em dois reais por dólar. O Banco Central não pode assistir passivamente a esse movimento, sem usar seu instrumental. Grandes empresas dos setores de autopeças e de calçados já pensam em se transferir para a Argentina", alertou o economista Luciano Coutinho, da Unicamp. "O Banco Central precisa deixar de ser transparente e anunciar antes o que vai fazer. Precisa agir até que a taxa de câmbio caia."

Essa opinião foi compartilhada por Ricardo Carneiro, também da Unicamp, que considerou impossível manter uma política de estabilização da economia do País com a taxa de câmbio flutuante

O seminário foi promovido pelo presidente da Câmara, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), interessado em provocar o debate sobre as razões que levaram o Brasil a registrar aumento de apenas 2 3% no Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado, e o BC a projetar um porcentual de 4% para este ano. No período de 2001 a 2004, a economia brasileira expandiu em 1,8% ao ano, enquanto a China cresceu 8,8%, a Índia, 6,1%, e a África do Sul, 3,2%.

Nas contas de Coutinho, o Brasil poderia almejar crescimento de 5% a 6% ao ano, com taxa de juros real abaixo de 6%, desde que o governo controle eficientemente os gastos públicos correntes e a valorização do real e inicie um forte ciclo de investimentos. Para ele, é essencial adicionar mais quatro pontos porcentuais do PIB nos desembolsos com investimentos para responder ao aumento da demanda que seria provocado pela queda da taxa de juros, sem provocar elevação da taxa de inflação.

PIB jabuticaba – Para Joaquim Elói Cirne de Toledo, da USP, a economia brasileira acostumou-se ao crescimento baixo, assim como o bonsai, espécie de árvore anã que se comporta como se fosse o exemplar normal. "Somos um país pobre com a taxa de crescimento secular da Europa. Para fugir disso e dos vôos de galinha, precisamos de uma política fiscal fortemente restritiva", receitou o economista, que atua como uma espécie de conselheiro do Ministério da Fazenda. Conforme argumentou, a receita para contornar esse dilema depende de um forte ajuste fiscal e da contenção da valorização cambial. "Prefiro aumentar impostos a aumentar a taxa de juros", defendeu.

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