Brasília – O Banco Central (BC) comprou em novembro cerca de US$ 3,5 bilhões e com isso fez o valor da reservas internacionais atingir o recorde de US$ 50,823 bilhões. Esse saldo não leva em consideração os recursos do Fundo Monetário Internacional (FMI) que estão no País. O movimento de alta das reservas teve um impulso adicional de US$ 500 milhões oriundos de uma captação feita pelo Tesouro Nacional no mercado financeiro internacional. As compras do BC, segundo o economista e sócio da Mauá Investimentos, Caio Megale, ficaram acima do fluxo cambial de US$ 2,769 bilhões ocorrido durante todo o mês passado. "O BC comprou todo o fluxo e ainda foi um pouco mais além", disse.
O dólar, no entanto, ignorou as aquisições do BC, complementadas pelos leilões de títulos (na modalidade swap reverso, que reflete no mercado futuro de câmbio) e apresentou valorização de 2,10%. O economista da Mauá Investimentos acredita que o movimento do câmbio foi provocado por um desmonte de posições em dólar no mercado futuro de investidores locais. "Vimos exportadores e pessoas físicas deixando de apostar no dólar e passando a se ir para posições em real", disse. Para Megale, a movimentação ocorreu em função do crescimento da percepção dos participantes de mercado de que o movimento de apreciação do real é mais persistente do que se imaginava.
O ex-presidente do BC Gustavo Loyola acha que as alternativas disponíveis para o governo enfrentar a queda do dólar são reduzir os juros e promover uma modificação da atual legislação cambial. "A nossa legislação foi toda feita tendo em vista um contexto de escassez de moeda estrangeira no mercado. O quadro hoje é exatamente o contrário", comentou. A mudança na legislação, no entanto, teria que passar pelo crivo do Congresso Nacional, que tem concentrado suas atenções nos últimos meses aos temas relacionados aos casos sob investigação das CPIs dos Correios e dos Bingos.
Para Loyola, o BC poderia reduzir os juros em 0,75 ponto porcentual na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da próxima semana. "Há espaço para se fazer isso sem prejudicar o objetivo se alcançar as metas de inflação", disse. Ele acha, no entanto, que isto não deverá acontecer. "Os economistas que participaram da reunião da semana passada com os diretores do BC saíram convencidos de que as reduções de juros continuarão mesmo em 0,50 ponto porcentual", disse. Outra possibilidade que não deveria ser descartada, de acordo com o ex-presidente do BC, é a redução de alíquotas de importação. "Isto criaria uma demanda natural pelo dólar e ajudaria a conter a valorização do real", disse.
Loyola não vê com bons olhos a alternativa defendida por alguns economistas, de se adotar alguma medida de controle da entrada de capitais externos no País. "Não gosto deste tipo de medida. O mercado acaba encontrando formas de driblar a restrição imposta pelo BC", afirmou. A mesma opinião tem o ex-diretor do BC, Carlos Eduardo de Freitas. "Restrições de fluxo só geram distorções no mercado", comentou.
Enquanto a questão não é resolvida, os exportadores ficam preocupados com uma eventual perda de competitividade dos seus produtos no exterior. "Fiz uma palestra recentemente no Rio Grande do Sul (que é um Estado exportador) e a pergunta mais freqüente era no sentido de saber o que fazer para conter a valorização do real", contou o ex-presidente do BC.
O economista de uma empresa gestora de recursos Alexandre Sant’Anna acha que os efeitos do câmbio apreciado deverão começar a ser sentidos com mais força a partir do segundo semestre do próximo ano. Ele, entretanto, acha que os exportadores poderão ter a perda com o câmbio compensada pela persistência de uma demanda global em alta no ano que vem. "Com a economia mundial crescendo, continuará a haver demanda por nossos produtos", disse.