A manutenção do alto nível de juros reais pode criar a necessidade de um aumento significativo no superávit público primário (receita menos despesas, sem considerar os gastos com juros) , cuja meta anual atualmente é de 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB).
Esta avaliação está publicada no Boletim de Conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), na nota técnica "Independência Monetária", do economista Roberto Pires Messenberg.
"O juro tem que cair porque do jeito que está é insustentável", resumiu, em entrevista à Agência Estado, referindo-se aos efeitos fiscais e sobre a atividade econômica. Para o economista, a queda de 2,5% na produção industrial de junho para julho também é fruto da influência negativa dos juros.
Messenberg observou que, com a inflação baixando e a Selic sendo mantida, os juros reais estão aumentando e ampliando conseqüentemente, as despesas públicas. Com isso, a receita inflacionária do governo está caindo, mas os gastos com juros reais também crescem, em vez de diminuírem. Caso essas circunstâncias se prolonguem, mais gastos e menos receitas tendem a elevar a dívida pública, a não ser que o superávit primário também seja maior.
No texto, Messenberg usa a expressão "overkill fiscal" para se referir ao nível de superávit primário que seria necessário. Em entrevista por telefone, ao ser perguntado se isso significa um superávit extremamente alto, "de uns 10% do PIB", Messenberg riu e respondeu em tom de brincadeira: "Você entendeu meu artigo."
A sério, ele não quis quantificar o nível de superávit para impedir o aumento da dívida pública em relação ao PIB. "Isso depende da interpretação do mercado sobre a trajetória da dívida", disse.
