Considerado por especialistas como o “patinho feio” entre os terminais aeroportuários leiloados nesta quinta-feira, 16, Florianópolis surpreendeu os presentes na sessão pública da licitação, ao se tornar o ativo mais disputado, recebendo um total de dez lances a viva-voz das operadoras Zurich (Suíça) e Vinci (França). A primeira venceu a concorrência ao apresentar um lance de R$ 83,333 milhões, o que corresponde a um ágio de 58% ante um valor mínimo de R$ 52,75 milhões.
O diretor administrativo de Desenvolvimento de Negócios Internacionais da Zurich Airport, Martin Fernandez, afirmou que o terminal de Florianópolis “não é um patinho feio, é um patinho pequeno, mas se ajudarmos a crescer será um patinho grande”. Para ele, o aeroporto catarinense possui uma demanda reprimida, tendo em vista as características locais de turismo e seu potencial de desenvolvimento de negócios, em especial no segmento de tecnologia.
“Não entendemos como um aeroporto em uma praia, em uma cidade com essas características tão boas, só tem 3,6 milhões de passageiros/ano”, disse. Segundo ele, o número de passageiros que passam pelo terminal pode “explodir”, em especial com a esperada recuperação da renda da classe média. “Acreditamos que tem de ser pelo menos 10 milhões de passageiros/ano”, afirmou, sem revelar quando esse número poderia ser alcançado. “Temos diversos cenários”, disse. Ele comentou, porém, que o plano desenhado pela companhia prevê que a economia volte a crescer a partir do segundo semestre deste ano.
A intenção da Zurich é obter o apoio dos governos estadual e municipais da região para buscar o desenvolvimento regional. Além de um potencial estímulo ao turismo, Fernandez também disse contar com o desenvolvimento do cluster tecnológico local. “Tivemos uma experiência interessante em Bangalore, um centro de tecnologia da Índia em backoffice, e por que não se pode fazer uma coisa similar aqui no País?”, disse, indicando essa possibilidade como um potencial de longo prazo, tendo em vista que a concessão terá 30 anos.
Financiamento
Questionado sobre a alternativa de financiamento que a operadora considera, ele admitiu que a companhia deve procurar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), mas avaliou que as condições do banco de fomento não são tão atrativas. “Temos que analisar”, disse. Segundo ele, considerando uma TJLP fixa e a esperada queda da taxa Selic, um financiamento a TJLP deixará de ser interessante.
“O governo vende que ajuda desta forma, mas se for assim, qual é a ajuda?”, questionou. “E as condições do BNDES são muito mais rígidas que de outros bancos, mais colaterais, querem garantias, cartas de crédito… Se tenho tudo isso, não preciso do BNDES”, afirmou.
Fernandez disse esperar que o BNDES ainda possa oferecer alguma melhoria, pelo menos nas exigências feitas, como uma estrutura mais alinhada com um Project Finance, em que o próprio balanço da concessionária serve como garantia para o financiamento.
Para ele, a solução de proteção cambial oferecida não colabora de maneira significativa com a busca por uma linha de financiamento externa. “Vamos analisar, mas esta solução não coincide necessariamente com as necessidades de capital e com as receitas em dólares, mas é uma ajuda”, disse.