O ministro da Fazenda, Guido Mantega, em discurso neste sábado (12) no Fundo Monetário Internacional, reconheceu que, apesar da resiliência mostrada desde o início da crise nas economias avançadas, a vulnerabilidade externa dos países emergentes não foi eliminada. Ao falar durante o Encontro de Primavera do FMI, no Comitê Monetário e Financeiro Internacional (IMFC, na sigla em inglês) do Fundo, Mantega elogiou o que interpretou como um incentivo do FMI "em favor de um estímulo fiscal global", disse que os Bancos Centrais (BCs) globais têm agido de forma "acertada" e criticou o "abuso" na remuneração dos executivos do setor financeiro.

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"Como Strauss-Kahn (o diretor-gerente Dominique Strauss-Kahn) tem dito repetidamente, a política monetária pode não ser suficiente. E os países que têm espaço para tal não devem hesitar em lançar mão de políticas fiscais anticíclicas", disse o ministro brasileiro ao comitê que orienta as prioridades políticas do FMI, segundo discurso distribuído pela assessoria da Fazenda, que acompanha o ministro no encontro do Fundo.

No relatório Perspectiva Econômica Internacional (WEO), divulgado em 9 de abril, o FMI reconhece que, "diversas economias emergentes teriam mais espaço do que no passado para aplicar medidas contracíclicas", no caso de uma desaceleração severa da economia, mas, de acordo com o Fundo, aqueles países que estão vulneráveis, ou têm elevada necessidade de financiamento, podem precisar "apertar políticas (fiscais)".

Ainda de acordo com o relatório as políticas fiscais e financeira podem ter papel útil para evitar o aquecimento excessivo das economias dos mercados emergentes, uma vez que "restringir gastos do governo pode ajudar a moderar a demanda doméstica, reduzir a necessidade de aperto monetário e, também, reduzir a pressão (derivada) da entrada de fluxo de capital de curto prazo atraído por juros elevados".

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Neste sábado, em discurso, Mantega lembrou que "a turbulência nos principais mercados financeiros começou há cerca de 9 meses e até agora as economias emergentes continuam escapando bastante ilesas". No entanto, o ministro reconheceu que "nossa vulnerabilidade externa não foi eliminada", mas acrescentou que ela "diminuiu consideravelmente". Mantega fez o discurso representando a Constituency do Brasil no Fundo, que agrega Brasil, Colômbia, República Dominicana, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, Suriname e Trinidad e Tobago.

O ministro destacou a necessidade de novas regras para agências de classificação de risco, criticou "abusos" na remuneração dos executivos do setor financeiro. Ele também reiterou as avaliações de que o Fundo pode não ter "diagnosticado a tempo os problemas nos sistemas financeiros dos Estados Unidos e da Europa" e de que o FMI não tem em relação aos principais acionistas a mesma desenvoltura que demonstra quando lida com países em desenvolvimento". "Talvez o Fundo esteja desacostumado a pensar em soluções e recomendações para os seus principais acionistas. Pode ser que esses países não estejam dispostos a escutá-las", acrescentou.

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Embora avalie como importante o plano do Departamento do Tesouro nos EUA, com relação à regulação no sistema financeiro, lamentou a demora para o aparecimento da proposta. "Lamentamos que as medidas desse tipo, tão importantes para a reorganização e a solidez do sistema financeiro, não tenham sido tomadas há mais tempo." Mantega, contudo, afirmou que os governos e bancos centrais dos países avançados têm reagido "de forma acertada ao desafio", ao combinar redução de juros e injeção de liquidez nos mercados.

Ao comitê, Mantega apontou a necessidade de estabelecer novos sistemas de regulação e supervisão dos sistemas financeiros e, também, para agências de classificação de risco e criticou as "distorções na remuneração" dos executivos do setor financeiro. O ministro apoiou a proposta de "aumentar o acesso normal a recursos do Fundo", a criação de novo instrumento para prevenção de crises e, também, a criação de mecanismos de empréstimo de "curto ou curtíssimo" prazos, no caso de os membros do FMI se depararem com problemas de liquidez.

O ministro apresentou seu "sincero agradecimento" ao diretor-gerente do Fundo pelos esforços quanto à reforma de cotas, segundo a qual a participação do Brasil foi elevada de 1,4% para 1,7% no Fundo.