Vinculado tradicionalmente à imagem de pessoas que doam seu tempo para beneficiar a sociedade, o trabalho voluntário pode ser eficiente também para as companhias que o promovem, aponta o primeiro grande levantamento sobre voluntariado corporativo no País.

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Segundo o estudo, feito pelo Bank of America Merrill Lynch (BofA) e pela consultoria Santo Caos com 828 trabalhadores de 80 companhias, funcionários que participam de programas de adesão voluntária organizados por empresas têm índice de engajamento 16% maior do que os que não participam desse tipo de atividade. “É um ganho de produtividade que não se pode ignorar”, destaca Thiago Fernandes, responsável pela área social e de governança do BofA na América Latina. No banco, 30% a 40% dos funcionários participam de trabalhos voluntários.

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Na pesquisa, o engajamento foi medido após os entrevistados responderem um questionário em que afirmavam quão envolvidos eram com o dia a dia da empresa em termos de conscientização (conhecimento de valores e práticas da companhia), compromisso, pertencimento, orgulho e compartilhamento (divulgação das ações da empresa).

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Na tentativa de integrar os funcionários, a superintendente de operações do Itaú, Adriana Gouveia, adotou uma medida diferente neste ano: em vez de levá-los, como costumava fazer, para um fim de semana em um resort, propôs ao grupo um trabalho voluntário – reformar uma brinquedoteca e plantar uma horta.

Mais da metade da equipe, de 730 pessoas, aderiu à proposta (55%) e o resultado, segundo à executiva, foi bastante superior ao do passeio em um hotel. “A criação de sentimento de time foi muito maior que em outros eventos. O senso de pertencimento à empresa melhorou muito.”

Consequência. Com um objetivo único e comum durante o trabalho voluntário, os funcionários acabam desenvolvendo melhor o espírito de equipe, acrescenta Adriana, que, para levar seu time à horta e à brinquedoteca, teve a ajuda de Anna Carolina Bruschetta, coordenadora de assessoria de voluntariado da Fundação Itaú Social.

Segundo Anna Carolina, integrar as equipes não é a meta das ações de voluntariado, mas, sim, consequência. “O objetivo primordial é se doar à comunidade. Caso contrário, não se torna legítimo.” A coordenadora da fundação diz que os trabalhadores que participam dos projetos se sentem mais motivados e alinhados aos valores da companhia – de acordo com a pesquisa do BofA, 21% dos participantes se dizem mais motivados.

Na Telefônica, onde o programa de incentivo ao voluntariado tem 15 anos, 96% de 4,6 mil entrevistados dizem que as ações melhoraram o clima corporativo e 87% destacam que utilizam o que aprenderam nos projetos em seu dia a dia.

A analista de marketing da empresa Graziela Nardes, por exemplo, doou 15 dias de suas últimas férias para ir ao Equador ajudar na reconstrução de uma vila que havia sido destruída por um terremoto. Passagem, alimentação e organização do trabalho no país ficaram por conta da Telefônica. “Aprendi a ajudar na mediação de conflitos e a trabalhar com pessoas que pensam diferente, mas têm um objetivo comum”, conta.

Desafios. O sócio da consultoria Santo Caos Jean Soldatelli destaca que ainda há dificuldades na promoção do voluntariado no ambiente corporativo. Segundo a pesquisa, 62% dos gestores consultados dizem ter problemas com os custos. Do lado dos trabalhadores, 60% dos que não participam dos programas afirmam não ter tempo para as atividades.

A superintendente do Itaú que levou suas equipes para reformarem uma brinquedoteca conta que, para contornar o problema do tempo, todas as reuniões necessárias para o desenvolvimento da ação voluntária foram feitas em horário de trabalho.