Volkswagen não descarta fechar fábrica no Brasil

A Volkswagen pode fechar uma de suas cinco fábricas no Brasil e demitir até 6 mil metalúrgicos. O gerente de Relações Trabalhistas da montadora, Nilton Júnior, disse ontem que não está descartado o fechamento de uma das unidades. A empresa confirmou que estuda cortar de 4 mil a 6 mil empregos até 2008. As demissões podem começar na próxima semana em Taubaté (SP). As medidas fazem parte de um processo de reestruturação da empresa, que vem sofrendo prejuízos há oito anos.

No Paraná, cerca de 1,4 mil funcionários – dos quase 4,2 mil que compõem o quadro atual da unidade em São José dos Pinhais – podem ser demitidos até 2008, prevê o Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba (SMC). Segundo o coordenador da Comissão de Fábrica da Volks no Paraná, Gilson Ricardo dos Santos Batista, as negociações entre os trabalhadores e a direção da empresa continuam paradas.

A partir da próxima segunda-feira, dia 17, os trabalhadores da fábrica em São José dos Pinhais terão férias de dez dias. ?As negociações aqui só devem ocorrer depois das férias coletivas?, afirmou Batista. A unidade da Volks no Paraná produz 810 veículos por dia, entre os modelos Golf, Fox e Audi A3, que são exportados para a Europa, América Latina e México, além do comércio no mercado interno.

Redução de exportações

A diretora para Assuntos Governamentais da Volkswagen, Elizabeth de Carvalhaes, atribuiu ao câmbio a atual situação de ?constrangimento financeiro da empresa?. Ela explicou que a Volks vem atravessando uma situação deficitária devido à estratégia desenvolvida no passado, de voltar grande parte da produção para a exportação. ?A receita cambial hoje não cobre os custos de produção. Por isso temos que reestruturar a exportação de forma a parar de gerar prejuízo no caixa da empresa?, explicou.

A diretora da Volks foi ontem a Brasília, acompanhada do gerente de Relações Trabalhistas da montadora, Nilton Júnior, atendendo convite para participar de audiência pública na Câmara dos Deputados. Ela garantiu que a montadora não faria nenhum pedido ao governo. ?A Volks não vai pedir nada ao governo?, assegurou. A diretora, entretanto, criticou a política cambial brasileira. ?O Brasil precisa rever sua política cambial se, de fato, quiser ser o pólo exportador anunciado no passado?, afirmou.

De acordo com Elizabeth de Carvalhaes, a Volkswagen exporta, hoje, 43% da sua produção, e é esse grande volume que terá que ser reduzido. ?A Volkswagen insistiu fortemente numa estratégia (de exportações) e de fato está com um problema seriíssimo?, reconheceu. Segundo estimativa da executiva, um câmbio de R$ 2,60 a R$ 2,70 garantiria rentabilidade nas exportações da empresa.

Em 2005, a fabricante exportou 257 mil veículos de um total de 684 mil unidades produzidas no País. A capacidade instalada atual da Volkswagen no Brasil é de 735 mil carros por ano. Com a reestruturação, a meta é chegar a 2008 com exportações de 100 mil veículos de uma produção total de 514 mil carros, segundo dados da companhia, reduzindo o peso das vendas externas na composição da receita.

Demissões

Segundo o gerente corporativo de Relações Trabalhistas, Nilton Júnior, ainda não foi efetivada nenhuma demissão por conta do plano de reestruturação. As demissões já ocorridas na fábrica de São José dos Pinhais, da ordem de 300 pessoas, segundo ele, são movimentações normais. Na maior fábrica da Volks no País, a de Anchieta, em São Bernardo do Campo, as demissões só serão feitas a partir de novembro, porque até lá está em vigor um contrato de garantia de trabalho com o sindicato. As primeiras demissões deverão ocorrer na fábrica de Taubaté – que emprega 4,5 mil pessoas e produz os modelos Gol e Parati – e devem ser anunciadas até a próxima semana.

A proposta da Volkswagen aos trabalhadores é reduzir em 35% os salários de novos contratados e conceder 85% de reposição da inflação em reajustes salariais, deixando os 15% restantes vinculados ao cumprimento de metas. A empresa oferece ainda incentivo financeiro aos empregados que forem demitidos após acordos com os sindicatos.

A Volkswagen emprega no Brasil cerca de 21 mil pessoas na área de veículos e comerciais leves e tem quatro de suas cinco fábricas no País envolvidas no processo de reestruturação. 

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