Volks poderia já estar em concordata

Brasília (AE) – A diretora para assuntos governamentais da Volkswagen, Elizabeth de Carvalhaes, defendeu ontem em Brasília a necessidade de reestruturação imediata da empresa no Brasil. ?Se a Volks fosse apenas uma empresa nacional, estaria em situação concordatária nesse momento?, disse. Elizabeth assegurou, em audiência na Comissão de Desenvolvimento, Indústria e Comércio da Câmara dos Deputados, que a reestruturação é absolutamente imprescindível e que, se não for feita, a questão não será mais a demissão até 2008 de cerca de 6 mil funcionários, mas de todo o contingente de empregados da montadora.

A executiva descartou a proposta dos parlamentares para que a montadora alemã de veículos suspenda o plano de reestruturação e participe de uma mesa de negociações em busca de um outro caminho. ?Não podemos interromper o processo para esperar por uma solução?, disse. Ela afirmou que a situação financeira atual da Volkswagen é ?absolutamente constrangedora?.

O plano de reestruturação da empresa, anunciado em maio, prevê de 4 mil a 6 mil demissões em dois anos, o equivalente a cerca de 25% do quadro atual. Também determina uma economia de 25% no custo atual de produção, com redução de salários e corte de benefícios. Se as medidas não forem implementadas, o grupo ameaça fechar uma de suas cinco fábricas no País.

O gerente corporativo de Relações Trabalhistas da empresa, Nilton Júnior, explicou que as demissões estão sendo negociadas com os sindicatos e que devem começar pela unidade de Taubaté (interior de SP). Na maior unidade da montadora no País, em São Bernardo do Campo (ABC paulista), o programa só deve começar a partir de novembro, quando vence o contrato de garantia de emprego firmado entre a empresa e o sindicato.

Depois de mais de seis anos de déficit, a Volks precisa de injeção de capital para fechar suas contas, disse a diretora. Ela explicou que, por causa dessa situação, a empresa deixou de receber investimentos da matriz. Na exposição que fez para os deputados, Elizabeth de Carvalhaes culpou a atual política econômica pela situação quase falimentar da montadora.

Segundo a diretora, a situação deficitária é conseqüência da estratégia adotada no passado, estimulada pelo governo, de voltar grande parte da sua produção para o mercado externo. Hoje a empresa exporta 43% da sua produção e, com o nível atual do câmbio, não consegue cobrir com as vendas externas o seu custo de produção.

?Precisamos reduzir as exportações para parar de gerar prejuízo no caixa da empresa?, justificou. Daí, segundo ela, o impacto no ambiente de trabalho nas unidades da Volks voltadas para a exportação.

Para a diretora, a alternativa de redirecionar as vendas para o mercado interno não é solução no momento. ?O nosso produto é violentamente tributado, o que, aliado aos juros altos, impede o crescimento das vendas no mercado interno.

De acordo com as análises e projeções feitas pela montadora, nada indica que o cenário econômico do País mudará no curto prazo. ?Câmbio, tributação e juros são variáveis que independem de qualquer ação da empresa?, disse Elizabeth. A estratégia da empresa prevê uma redução de 40% nas exportações, o que significa um corte na produção de cerca de 100 mil veículos por ano.

Conselho acompanha audiência

O presidente do Conselho de Política Automotiva do Paraná, Mário Lobo, participou quarta-feira (12) da audiência pública na Câmara dos Deputados. A audiência discutiu o plano de demissões anunciado pela Volkswagen no Brasil. ?Estamos acompanhando de perto essa questão e pedimos a interrupção do plano de demissões, além do envolvimento do Ministério do Trabalho e da Fazenda para tratar de questões como câmbio e juros, que não são da alçada estadual?, afirma Lobo.

O Conselho de Política Automotiva do Estado tenta evitar as demissões desde maio, quando a Volkswagen do Brasil anunciou a intenção de acabar com 5.773 postos de trabalho, o equivalente a 25% do quadro atual. Uma das fábricas da Volks fica em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, e tem cerca de 3.700 funcionários e o sindicato estima um corte de 1.420 trabalhadores até 2008. (AEN)

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