Vinicultura ganha incentivo para crescer no Estado

A vitivinicultura (produção de uva e vinho) vem ganhando força no Paraná. Atualmente, o Estado é o 5.º maior produtor do País, com municípios que se destacam nacionalmente pela qualidade da fruta colhida. No entanto, a retomada da posição de destaque é resultado de trabalho árduo para recuperar a atividade, que, justamente em seu apogeu, na década de 70, foi acometida por uma praga, conhecida como pérola da terra, que dizimou as plantações.

A produção de uva e vinho no Paraná, que começou na década de 40, hoje está atrás apenas do Rio Grande do Sul, São Paulo, Pernambuco e Bahia. O Estado busca recuperar a força da vitivinicultura por meio de incentivos tributários, e já pode ver resultados ao verificar investimentos de grandes vinícolas em novas áreas de plantio.

Por meio do projeto “Consolidação da Uva Rústica como Negócio da Agricultura Familiar no Paraná”, o governo do Estado prevê isentar do Imposto Sobre Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS) os produtores de vinhos e derivados cujas uvas são produzidas no Paraná. No total, o Estado concentra aproximadamente sete mil produtores de uva.

De acordo com o engenheiro agrônomo responsável pela fruticultura da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná, Paulo Fernando de Souza Andrade, além de querer estimular esse mercado, para melhorar a renda das famílias que vivem da uva e movimentar a economia dos municípios produtores, a meta é incentivar e capacitar o vitivinicultor.

“O apoio não é financeiro, mas, sim, tecnológico”, resume. As regiões que mais se destacam na produção de uva são, segundo Andrade, o sudoeste, onde o cultivo é destinado para a fabricação de vinhos, sucos e derivados; e o norte, onde se produz, principalmente, a variedade fina de mesa.

“A maior parte da produção é do tipo fina, ideal para o consumo in natura da fruta. A uva é a 5.ª colocada em volume colhido, contudo, representa 22% do Valor Bruto de Produção (VBP) da fruticultura, sendo, dessa forma, a primeira em geração de renda bruta”, diz.

Andrade conta ainda que, de acordo com dados do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), as uvas de mesa respondem por 84,75% do volume colhido. Destas, 63% são uvas finas e 21,6%, uvas rústicas. Os 15,25% restantes da produção são destinados para a industrialização.

RMC

Embora ainda não tenha destaque no cenário paranaense, a Região Metropolitana de Curitiba (RMC) está aumentando sua participação nessa área. Em Campo Largo, o produtor Leniro Stoco, no ramo há seis anos, revela que a atividade é bem lucrativa.

“Além da uva, cuja produção gira em torno de seis toneladas por ano, trabalho também com produtos orgânicos, mas posso afirmar que as uvas e o vinho que eu fabrico são a minha principal fonte de renda.” Stoco cita outras vantagens em se trabalhar como vitivinicultor.

“O bom da uva é que não precisa de muito agrotóxico, se comparada com a agricultura tradicional. É uma cultura boa de se trabalhar e que rende um bom lucro”, garante.

Vantagens à vista, produção incrementada

De olho no projeto “Consolidação da Uva Rústica como Negócio da Agricultura Familiar”, a Vinícola Campo Largo, considerada a maior vinícola particular do Brasil, está iniciando em Campo Largo, Região Metropolitana de Curitiba, o plantio de uma área de 16 hectares, o equivalente a 16 campos de futebol, com mudas certificadas.

A empresa também trabalha orientando as famílias que irão produzi-la, tudo sob a orientação e supervisão de um engenheiro agrônomo. O investimento é de R$ 400 mil e a capacidade produtiva inicial será de 500 toneladas por ano.

A previs&atil,de;o é que em oito anos essa quantidade passe a quatro mil toneladas/ano. Além de se beneficiar com a isenção de ICMS, o objetivo da empresa é, segundo o diretor-presidente Giorgeo Zanlorenzi, fomentar o aumento dessa cultura no Paraná.

“Até a década de 70, utilizávamos a uva paranaense para a produção de vinhos. Depois, por conta da necessidade de expandir os negócios e também por causa da praga pérola da terra, mudamos a produção para a Serra Gaúcha.

Enxergamos nesse projeto uma ótima oportunidade para auxiliar a economia local e para investir no nosso Estado. Creio que, com ele, poderemos ser expoentes na vitivinicultura”, revela.

Ele diz ainda que a logística será facilitada. “Hoje a nossa uva percorre um longo caminho para chegar até a fábrica. Com a uva sendo produzida aqui, teremos uma economia significativa com essa mudança”, garante.

O diretor-presidente da vinícola conta que estão sendo investidos R$ 4,5 milhões na fábrica em Campo Largo para produção e engarrafamento. Além do vinho, a empresa produzirá suco de uva totalmente natural, sem adição
de açúcar e água.

Município do noroeste em evidência pela qualidade

O município de Marialva, noroeste do Paraná, próximo a Maringá, é o principal produtor de uva fina de mesa do Estado. Responsável por 50% de toda a uva cultivada no Paraná, a cidade de 30 mil habitantes, que é conhecida como “capital da uva fina”, tem nesta cultura sua principal fonte de renda e reconhecimento nacional devido à qualidade do produto.

De acordo com o prefeito do município, Edgar Silvestre (PSB), a uva é plantada em 1,7 mil hectares, com uma produção média de 51 mil toneladas por ano. “A uva gera para Marialva cinco mil empregos diretos e dois mil indiretos, o que corresponde a um sexto da nossa população.

A renda gerada com a venda é de R$ 76,5 milhões. Apenas para comparar, a soja, que ocupa 20 mil hectares, gera um pouco mais que a metade do lucro obtido com a uva”, revela. O prefeito acredita que o sucesso da uva na localidade, principalmente nos últimos 20 anos, deve-se a uma soma de fatores.

“Acredito que os nossos pioneiros têm uma boa parcela pelo desenvolvimento da fruta. Eles acreditaram no produto e trouxeram novas tecnologias para o plantio. Depois, vêm o clima e o solo, perfeitamente propícios para o seu desenvolvimento.

Por último, a reforma agrária, que foi muito bem feita e multiplicou o número de produtores”, conta. Para garantir a excelente qualidade da uva marialvense, Silvestre conta que, desde 2005, uma lei municipal impede que o produto com teor abaixo de 13 graus brix (forma de se medir a doçura da fruta) seja comercializado.

“Antigamente alguns produtores vendiam a uva antes do tempo. Como ela não estava com boa qualidade, o produto encalhava e o preço caía. Essa medida foi tomada para que não só o produtor saia ganhando, mas também o consumidor”, diz o prefeito, atribuindo também à determinação a melhora das características da uva produzida em Marialva, a ponto de a fruta local tornar-se referência nacional.