São Paulo  – A possibilidade de o Banco Central exercer o viés de baixa e reduzir a taxa de juros antes da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em setembro, marcada para os dias 17 e 18, divide as opiniões no mercado. Os economistas das instituições financeiras descartam qualquer chance de o viés vir a ser usado fora do comitê e apresentam argumentos fortes para defender a previsão. No entanto, os economistas que atuam em entidades ligadas à produção garantem que o BC já tem espaço para usar o viés e até voltar a reduzir a taxa de juros (atualmente em 18% ao ano).

“Eu acho que não há espaço para se reduzir a taxa de juros antes do Copom porque a volatilidade cambial está ainda muito alta”, defende o economista Leandro Strasser, do BicBanco para quem o Banco Central manterá o seu viés conservador.

Na sua avaliação, o cenário político, ainda indefinido, poderá provocar muita instabilidade no câmbio, o que pesará contra uma eventual utilização do viés de baixa adotado pelo Copom na reunião de agosto. “Joga ainda contra a redução da Selic o cenário beligerante no exterior, com a possibilidade de os EUA atacarem o Iraque”, explica Strasser.

Ele entende que o Banco Central deverá esperar um pouco mais pelo comportamento do câmbio e a confirmação de um superávit nas contas externas em agosto para depois disso, quando o cenário político estará mais definido, reduzir a taxa de juros.

O economista-chefe do HSBC, Alexandre Bassoli, também acha pouco provável que o BC tome qualquer atitude com relação a juros antes da próxima reunião do Copom. “Na seqüência da última reunião até a semana passada houve uma melhora nos mercados, com o risco País caindo e o câmbio se valorizando. E mesmo assim o BC não se sentiu à vontade para cortar juros. Isso não vai acontecer agora”, diz Bassoli.

O economista diz acreditar que não ocorrerá nenhum evento nos próximos dias antes da reunião do Copom que poderá justificar uma redução de juros. “Eu acho que precisaria ocorrer algo muito forte para que fosse reduzido o risco soberano e que valorizasse o câmbio”, explica o chefe dos economistas do HSBC.

Otimismo

Os economistas Heron do Carmo, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fipe, e Marcel Solimeo, diretor do Departamento Econômico da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), sintonizados com o setor real da economia, já vêem espaço para a redução dos juros pela utilização do viés de baixa e também na reunião ordinária do Copom deste mês. “Não será 0,50 ponto porcentual a menos na taxa de juros que irá elevar ou reduzir a volatilidade do câmbio e nem impedir uma guerra entre EUA e Iraque. Também não será meio ponto que vai levar a uma explosão do consumo”, diz o economista da ACSP, que se diz indignado pelo jogo protagonizado entre mercado financeiro e Banco Central.

“O Banco Central não corta juros por causa da expectativa do mercado e a expectativa do mercado acaba sendo alimentada pelo conservadorismo do BC. Se for esperar que não haja nenhum vento soprando contra, nunca sairemos deste nível elevado de juros”, afirma Solimeo.

Heron do Carmo acredita que o cenário político já está definido e mostra que as propostas dos candidatos são muito parecidas. Para ele, nenhum presidente, seja quem for ele, vai tomar medidas extremas que possam causar danos à economia.

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