Turistas que estão programando viajar para o exterior não têm porque se preocupar com a alta do dólar comercial registrada na última semana. Entre especialistas, a opinião geral é de que as oscilações da moeda norte-americana não devem, mesmo em um prazo maior, ser significativas a ponto de justificar corridas às casas de câmbio.
Há quem veja segurança suficiente para os turistas nem se preocuparem em comprar dólar e utilizarem o cartão de crédito internacional em suas compras.
O dólar, que fechou a sexta-feira com alta de 0,83% no mês, mas no ano ainda tem queda de 2,12%, teve uma alta provocada pelo anúncio da elevação para 6% na alíquota do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF). A intenção do governo é evitar uma supervalorização do real ante a moeda dos Estados Unidos. A semana encerrou com a moeda acima de R$ 1,70. O dólar comercial fechou em R$ 1,706. No câmbio turismo, o valor era de R$ 1,763 na venda e R$ 1,637 na compra.
Para Jeferson Luiz Javorsky, presidente do Comitê de Análise de Crédito e Gestão de Riscos do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Paraná, Ibef-PR e diretor da Prodata Fomento Mercantil, até o final do ano o dólar deve flutuar entre R$ 1,70 e R$ 1,75 e, em 2011, a previsão é que se acomode em um patamar de no máximo R$ 1,80. “Para quem aplica grandes quantias ou empresas que lidam com importação e exportação, um ou dois centavos fazem uma grande diferença. Já para o turista, não são mudanças significativas”, diz.
Na análise do executivo, os resultados da eleição do próximo fim de semana também não devem trazer grandes mudanças no câmbio. “A economia vai continuar muito aquecida nos próximos quatro anos. Há uma tendência de que a taxa Selic aumente um pouco, para 11,25% ou 11,50%, e a consequência disso é um aporte mais forte de capital para cá”, analisa.
Com esse cenário, Javorsky não vê motivos para que os turistas corram para trocar seus reais por dólar. A recomendação dele é de que as compras no exterior sejam feitas no cartão de crédito mesmo, e esperar o vencimento da fatura. A conversão, no caso, será feita pela cotação do dólar comercial desse dia. “No fim das contas, se houver perda, será de R$ 5 a R$ 10 apenas”, afirma, lembrando que, se ainda assim o turista decidir levar dólares daqui, corre o risco de gastar mais, já que as casas de câmbio costumam vender dólares alguns centavos além da cotação do dólar comercial.
“Nesse caso pode ser que paguem até R$ 1,90 por dólar”, alerta Javorsky. “Dessa forma, não vejo vantagem econômica nesse desembolso inicial”, completa. Ele também observa que, além de poder haver condição melhor de pagamento no vencimento da fatura, o turista ainda poderá manter aplicados os valores que iria gastar antes. “Além de tudo, é mais seguro usar o cartão do que viajar com alguns milhares de dólares no bolso”, conclui.
Troca em parcelas
Helio Miguel
Se, mesmo assim, o turista se sentir mais seguro levando dólares no bolso, a opção recomendada por especialistas é de trocar a moeda em parcelas, sem pressa.
Consultor de finanças pessoais e investimentos, Conrado Navarro concorda que não há motivo para pressa – mas acrescenta que também não dá para deixar tudo para às vésperas da viagem. Ele ressalta que o mais indicado para quem vai deixar o país em dezembro, por exemplo, é comprar os dólares aos poucos.
“A tendência é que o dólar chegue a R$ 1,70, R$ 1,80 até o fim do ano. O valor atual ainda está muito bom para a compra, mas não há motivo para alarde. Mas se você já tem uma data determinada para viajar, o ideal é comprar pouco a pouco, a cada 15 dias, por exemplo”, afirma Navarro.
Alfredo Barbutti, economista da Liquidez BGC, considera esta uma boa estratégia: “Estamos vivenciando um momento de forte instabilidade nas moedas. Comprar aos poucos parece ser uma postura mais inteligente. Mas ninguém está esperando algo assombroso no câmbio para os próximos meses. A oscilação deve continuar, apesar de não ser tão preocupante”, diz.
O consenso entre analistas é de que os fatores estruturais e o ambiente econômico continuam favoráveis ao real, e medidas como a elevação para 6% na alíquota do IOF só tenham impacto pontual.