Viajar para o exterior, com o dólar beirando os R$ 4, só se for a trabalho. Segundo dados da Embratur (Empresa Brasileira de Turismo), 1,5 milhão de brasileiros deixaram de fazer viagens internacionais neste ano por causa do problema cambial. De cada dez pacotes vendidos pelas agências de viagens, oito têm como destino o mercado doméstico. Em 99, com a desvalorização cambial, a proporção era inversa. Ano passado, metade das vendas era para o exterior.

“Até 11 de setembro, com o dólar entre R$ 1,80 e R$ 2, de cada dez viagens internacionais, cinco eram de negócios e cinco de lazer. Hoje, sete em cada dez são de executivos viajando a trabalho”, compara Joel Duarte, presidente da Abav/PR (Associação Brasileira das Agências de Viagens – seccional Paraná). “Quem tem mantido as agências e companhias aéreas é o business travel, já que com o dólar extremamente proibitivo, grande parte das pessoas que faziam viagens a lazer, levando famílias, desistiram.”

“Enquanto perdurar o câmbio proibitivo, os brasileiros necessariamente terão que redescobrir o Brasil. O País não pode perder a chance para desenvolver o turismo doméstico nesta alta temporada”, avalia Duarte. Em 2001, 50 milhões de brasileiros viajaram dentro do País. “A Embratur estimava um crescimento de 10% neste ano, mas o setor acredita que essa previsão será superada, chegando a 60 milhões de viajantes”, destaca o presidente da Abav/PR.

Mercado disputado

Porém quem optar pelas viagens domésticas terá que ficar atento. “Começa a valer a lei da oferta e procura. Como o Brasil tem poucos equipamentos para atender essa demanda tão grande, faz com que os preços aumentem”, comenta Duarte. “A Abav tem alertado os hoteleiros e operadores que não adianta cobrar R$ 5 mil a R$ 5,5 mil por pessoa nos pacotes para resorts da Costa do Sauípe (BA), com passagens aéreas, transfers e sete noites de hotel com café da manhã”, exemplifica. Nordeste e Santa Catarina são os locais preferidos dos turistas do Sul.

Só que além da elevação no mercado interno de turismo, está crescendo também a vinda de turistas estrangeiros. “Grande parte desses resorts estão bloqueados para eles, já que na alta temporada as companhias aéreas européias, principalmente de Portugal e Espanha, despejam um a dois aviões por dia no Nordeste”, ressalta Duarte. “Quem vem com moeda forte no bolso, como o euro, acha que os preços estão extremamente baratos. Isso tem gerado investimentos de grandes grupos econômicos no Nordeste”, comenta.

Nesta alta temporada, as agências apostam forte na venda de cruzeiros marítimos. Cinco navios estarão percorrendo a costa brasileira, saindo do Rio de Janeiro ou Santos e indo até Porto Seguro. “Este será um grande produto de consumo dos brasileiros que não vão viajar para fora, por causa da oferta reprimida dos resorts”, diz Duarte. Um cruzeiro de uma semana, com todas as despesas inclusas, sai por volta de US$ 780 por pessoa. Há pacotes mais baratos, a partir de US$ 280, para três noites, de Santos a Angra dos Reis.

Um pacote completo de uma semana para Nova York, custa US$ 1.100 por pessoa. “Comparado aos resorts brasileiros, não há muita diferença. O problema são os gastos adicionais. A alimentação é extremamente cara na Europa e América do Norte, chegando a R$ 1 mil por semana e o viajante é obrigado a pagar numa pancada só, porque o Banco Central não permite parcelar gastos no cartão de crédito”, observa o presidente da Abav/PR.

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