O comércio varejista brasileiro aumentou demissões no segundo trimestre deste ano, já refletindo um cenário desfavorável para as vendas no período. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) indicam que as demissões superaram as contratações até maio enquanto sindicatos já apontam redução de vagas também em junho.

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Um dos setores com demissões é o varejo de vestuário. Dados do Sindicato dos Comerciários de São Paulo apontam aumento nas homologações de abril até 15 de junho deste ano ante igual período do ano passado em três grandes companhias do setor. C&A, Riachuelo e Marisa registram 513 demissões nestes três meses, 200 a mais que em 2014. Outra grande do setor, a Renner foi a única entre as quatro que registrou queda nas homologações na comparação anual. O processo de homologação ocorre quando o funcionário está há mais de um ano na empresa e a demissão tem que passar pelo sindicato.

Para o diretor executivo da Associação Brasileira do Varejo Têxtil, Sidnei Abreu, as companhias do setor passam por um momento de ajuste diante da deterioração na confiança do consumidor. As vendas do varejo de vestuário e calçados acumulam queda de 1,1% no ano até abril segundo a Pesquisa Mensal do Comércio, do IBGE.

Apesar de acreditar que há uma tendência de recuperação das vendas em junho e julho depois que a Copa do Mundo afetou os resultados de 2014, Abreu considera que o segundo trimestre deste ano consolidou um nível de confiança baixo entre empresários. “O empresariado está com a responsabilidade de fazer gestão necessária de manter empresa saudável e enfrentar esse período de alta de custos e baixo otimismo do consumidor”, diz.

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C&A e Marisa já confirmaram ao jornal O Estado de S.Paulo que adequaram o quadro de funcionários ao novo momento. Já a Riachuelo disse que os números de homologações não refletem a realidade da companhia.

Em todo o comércio varejista, os desligamentos superaram as admissões em 154,6 mil no acumulado deste ano até maio, de acordo com o Caged. Apenas em maio, o saldo negativo foi de 14,6 mil, pior resultado para o setor desde o início da série histórica em 1992.

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Para o assessor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Guilherme Dietze, o recorde negativo condiz com o momento de deterioração das principais variáveis que afetam o varejo: inflação, crédito e confiança do consumidor. Na avaliação dele, a tendência é que o emprego no varejo continue a cair justamente porque não há perspectiva de melhora nessas variáveis macroeconômicas no curto prazo. “É uma questão de expectativa e, como existe a percepção no empresariado de que o cenário ainda vai se deteriorar mais, as demissões devem aumentar”, comenta.

Outro segmento do varejo que vem enfrentando um ambiente de vendas desfavorável é o de bens duráveis. O varejo de eletrodomésticos e móveis apresenta retração de 6,6% em receita nominal de janeiro a abril, de acordo com o IBGE. Já no mês de maio, dados do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV) indicam queda real de 7,7% ante igual mês do ano anterior.

Informações de sindicatos também sinalizam redução de vagas nesse setor. Segundo o sindicato paulistano, Via Varejo e Magazine Luiza somaram neste segundo trimestre até 20 de junho um total de 610 homologações, mais de duzentas a mais do que no mesmo período do ano passado.

As principais companhias de eletrônicos, porém, ainda mantém planos de expansão em número de lojas. Na região do ABC, em São Paulo – onde fica a sede da Via Varejo – o sindicato local também afirma que houve aumento nas homologações do segmento no segundo trimestre, embora ainda acredite que algumas demissões serão compensadas dada a alta rotatividade de pessoal comum no varejo.

Até o momento, a FecomercioSP ainda vê um geração positiva de emprego apenas em segmentos do varejo que são mais resilientes, como supermercados e farmácias. A Associação Paulista de Supermercados (Apas) espera que o setor em São Paulo chegue a 525 mil colaboradores, alta de 1,2% na comparação com o patamar de dezembro de 2014. O economista da Apas, Rodrigo Mariano, ressalta, porém, que o ritmo de criação de novos empregos é bastante menor do que em anos anteriores. Entre 2013 e 2014, por exemplo, houve aumento de 3,7% no total de colaboradores do setor.