Apesar da queda na produção brasileira de cerveja no terceiro trimestre, a perspectiva de um bom desempenho das vendas da bebida nos últimos três meses do ano deve garantir o crescimento do setor em 2014.
Se confirmada a melhora entre outubro e dezembro, a expectativa de analistas consultados pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, é de que o mercado brasileiro de cerveja cresça cerca 3% neste ano, impulsionado principalmente por fatores sazonais e pela decisão do governo de adiar o reajuste tributário apenas para 2015.
Ao longo do primeiro semestre, a produção de cerveja foi beneficiada pelas elevadas temperaturas no verão, pelo carnaval tardio em março e pela realização da Copa do Mundo. De janeiro a junho, a produção de cerveja segundo o Sistema de Controle de Produção de Bebidas (Sicobe) acumulou alta de 11,2% na comparação com igual período do ano anterior.
Segundo levantamento da Associação Brasileira das Indústrias de Cerveja (CervBrasil), apenas o Mundial colaborou para um aumento de 2,2% na fabricação da bebida entre os meses de junho e julho, período no qual o setor costuma apresentar uma retração das vendas.
Passados os efeitos sazonais, o setor voltou a apresentar queda na produção em agosto e setembro, fazendo com que o terceiro trimestre encerrasse com uma diminuição de 2,1% ante igual trimestre de 2013. “É importante notar, no entanto, que os dados de produção não necessariamente representam os das vendas. Além disso, o desempenho do último trimestre é normalmente o mais forte do ano, sendo responsável por aproximadamente 30% das vendas”, afirmam, em relatório, os analistas Catarina Pedrosa e Douglas Coelho de Oliveira, do Banco Espírito Santo.
Apesar da queda no último trimestre, os profissionais lembram que o mercado brasileiro de cervejas mantém um resultado positivo no acumulado do ano até setembro. Segundo o Sicobe, até o momento a produção em 2014 apresenta alta de 6,8% em relação ao ano passado. A expectativa é que a partir de outubro e, principalmente, de novembro haja uma retomada da produção e das vendas já em linha com a sazonalidade do final do ano.
Além disso, analistas acreditam que a decisão do governo federal em adiar o reajuste tributário do setor para 2015 vai evitar que as companhias realizem aumentos expressivos nos preços de seus produtos, o que também deve ajudar a elevar as vendas.
A AmBev, maior fabricante de bebidas do País e detentora de cerca de 70% do mercado brasileiro de cerveja, deve ser a principal beneficiada com a medida. A exemplo do que aconteceu na Copa do Mundo, quando a companhia realizou um congelamento dos preços, o novo adiamento dos impostos deve alavancar o volume de vendas da companhia no Brasil.
“O planejamento da companhia incluía a previsão do reajuste em outubro. Dessa forma, sem o aumento, o crescimento deve ficar acima do previsto inicialmente”, estima um analista que prefere não ser identificado.
Logo após o anúncio do reajuste, a Ambev chegou a revisar suas estimativas para o mercado brasileiro, reduzindo o guidance de investimentos para um nível abaixo dos R$ 2,8 bilhões previstos inicialmente, sem, no entanto, divulgar um novo montante. Apesar disso, a Ambev manteve a perspectiva de aumento da receita líquida para as operações brasileiras. No ano, a expectativa é de um crescimento entre um dígito porcentual alto e dois dígitos baixos.
A Brasil Kirin, ex-Schincariol, também acredita no crescimento do setor em 2014. “O número deste ano para o setor de cervejas cresce, nós temos uma perspectiva de crescimento, mas abaixo de dois dígitos”, afirmou o vice-presidente de Operações da companhia, Alexandre Sanchez.
A CervBrasil também preferiu não definir um estimativa exata para o crescimento do setor neste ano, mas mantém a perspectiva de que a produção da bebida em 2014 deve reverter o resultado de 2013, quando houve retração de 2%. “Considerando o caráter sazonal dos nossos produtos, o período de férias e festas de fim de ano sempre permitiu que as vendas (do quarto trimestre) fossem mais expressivas e compensatória aos demais períodos. Confiamos que a sazonalidade do período que se inicia com o verão poderá minimizar as quedas que o mercado tem apresentado nos últimos meses”, disse ao Broadcast o presidente executiva da associação, Paulo de Tarso Petroni.
Já no longo prazo, o setor espera para 2015 um ano mais desafiador no mercado doméstico, com a perspectiva de uma redução do consumo doméstico. Para Petroni, “o processo recessivo” da economia interna já é uma realidade. Diante dessa perspectiva, analistas acreditam que as oportunidades de crescimento para Ambev nos próximos anos devem ficar mais concentradas em outros países da América do Sul, onde a fabricante tem mais espaço para aumentar sua participação de mercado.