Ruim pra cidade

Venda do HSBC pro Bradesco deixa bancários apreensivos

A venda do HSBC Brasil pro Bradesco, anuncida oficialmente ontem, tem impacto direto sobre Curitiba. Na capital paranaense, sua sede administrativa, o banco britânico emprega atualmente 7,1 mil pessoas, sem contar estagiários e terceirizados. O número é equivalente a todos os empregos gerados pela economia da cidade no ano passado, 7.106 vagas, segundo o Ministério do Trabalho.

Em São Paulo, o prefeito Gustavo Fruet conversou com a diretoria do Bradesco, que deve vir a Curitiba ainda nesta semana pra uma reunião. “Eles disseram que tem havido muita especulação e boataria. Por isso querem um diálogo aberto e devem tomar todo o cuidado com relação a diferentes temas, principalmente o emprego”, disse Fruet.

Segundo ele, em breve a prefeitura deve ter um diagnóstico detalhado sobre a presença do HSBC em Curitiba, incluindo o que representa em termos de emprego, receita, empresas agregadas e situação fiscal. Em termos de arrecadação de tributos, a transferência pro Bradesco, que mantém sede administrativa em Osasco, região metropolitana da capital paulista, deve causar perda significa pra Curitiba. No último ano, a operação do HSBC gerou receita da ordem de R$ 85 milhões. “As operações bancárias de pessoa física e jurídica continuam, mas perdemos com a operação da área de TI, responsável por cerca de 40% da receita, além de mais de R$ 10 milhões provenientes de empresas terceirizadas”, diz Fruet.

Clientes sem prejuízo

O anúncio da saída do HSBC do Brasil deixou milhões de clientes apreensivos sobre o futuro de suas contas. No entanto, especialistas e órgãos de defesa do consumidor garantem que a aquisição não deve preocupar, pois os contratos serão mantidos e os direitos do cliente, garantidos.

“Os direitos continuam os mesmos e serão preservados, a exemplo da fusão do Itaú e Unibanco. Não há motivo pra preocupação, o Bradesco deve adequar os clientes atendendo aos serviços e condições contratados no HSBC. Se houver problemas, o cliente deve reclamar e daremos suporte pra garantir seus direitos”, garante Claudia Francisca Silvano, diretora do Procon-PR. Segundo ela, pode haver troca de cartões e de agências.

De acordo com Ione Amorim, economista do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, a aquisição por parte de um dos maiores bancos de varejo do país também deve garantir solidez às operações e maior segurança aos clientes. “A carteira que o HSBC Brasil possui no país, com créditos, investimentos e passivos, continua válida, apenas será assumida por outro banco”, explica. (Liana Suss)

Funcionários mobilizados

De acordo com o presidente do Sindicato dos Bancários de Curitiba, Elias Hennemann Jordão, com o anúncio da compra, a preocupação da categoria se estende dos cerca de 21 mil bancários do HSBC no país pros cerca de 80 mil bancários do Bradesco, já que não há posição clara sobre o que deve ser feito após a aquisição. “Se não houver garantia na negociação, devemos iniciar um processo de mobilização dos trabalhadores dos dois bancos pra avançar e extrair um compromisso por parte do Bradesco”, diz.

Ontem à tarde, a Comissão de Organização dos Empregados (COE) do HSBC pendurou faixas de protesto na fachada da sede e reuniu os bancários da sede do Palácio Avenida – que foi fechada – pra discutir as próximas ações em defesa do emprego. “Em nenhum momento disseram o que aconteceria com os funcionários. A paralisação sempre foi a única maneira pela qual conseguimos discutir questões com o banco, vamos fazer o que for preciso, inclusive enfrentar o poderoso sistema financeiro, que sempre ditou as regras”, diz Cristiane Zacarias, coordenadora nacional da COE.
(Da Redação)

Negociação

A Confederação Naciona,l dos Trabalhadores no Ramo Financeiro (Contraf) também pediu ontem uma reunião com a diretoria do Bradesco. “Aconteceu o que mais temíamos. Podemos esperar que o Banco Central faça alguma exigência com relação aos empregos, mas vamos negociar um compromisso por parte do comprador”, diz Elias Hennemann Jordão, presidente do Sindicato dos Bancários de Curitiba. Desde junho, o sindicato articula reuniões junto ao Banco Central (BC) e ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), solicitando uma análise do negócio do ponto de vista social, e solicitando sua participação no processo como parte interessada.

O Bradesco confirmou que adquiriu o HSBC Brasil por R$ 17,6 bilhões (US$ 5,186 bilhões). Com isso, os ativos do Bradesco crescem 16%, pra R$ 1,192 trilhão. A carteira de crédito aumenta 14%, chegando a R$ 517,8 bilhões. O patrimônio líquido chega a R$ 11,2 bilhões.

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