O economista Armando Castelar Pinheiro se coloca entre os pessimistas quando se trata de avaliar o Produto Interno Bruto (PIB). Para ele, a recuperação de verdade depende do setor de serviços, que ainda não reagiu. E, sem um “ajuste fiscal forte”, o PIB vai ficar entre zero e 0,5% em 2017.

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Qual a sua avaliação sobre o resultado do PIB?

A minha leitura é que passamos a ter um PIB muito influenciado pelo que acontece com o crédito e com o mercado de trabalho. A Pnad Contínua, que saiu nesta semana, mostra que a massa salarial está caindo de maneira forte, na faixa de 5% ao ano. Há ainda queda no emprego. O crédito também está fraco. Nada ajuda no consumo das famílias, que responde por 63% do PIB.

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O esboço de recuperação na indústria não ajuda?

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Tivemos algum alento na indústria por causa da exportação. A indústria de material de transporte, por exemplo, está conseguindo exportar automóveis e caminhões. Mas isso não adianta. O crédito, que vai mal, e a queda no salário das famílias seguram o consumo e, portanto, serviços, o setor que representa 72% do PIB: o que acontecer com serviços define o PIB daqui para a frente.

Mas as previsões para o mercado de trabalho são de mais deterioração e não há perspectiva de mais crédito com o juro no atual patamar. Estamos diante de um nó para o crescimento?

Temos um nó, sim. Existe um debate grande entre os economistas hoje. Um grupo – que eu até diria ser majoritário – acha que vamos ter recuperação. A visão é muito calcada na melhoria da confiança. Essa melhora aparece em indicadores de confiança de empresas, de consumidores e de investidores financeiros, que entraram na Bolsa e investiram no câmbio. Esses otimistas dizem que, no passado, quando houve melhora na confiança, a atividade voltou. Essa ideia tem alimentado projeções para o PIB na faixa de 1,5%, 2% para 2017.

O sr. está entre os otimistas?

Estou entre os considerados mais pessimistas. Com aqueles que veem melhora, que a economia parou de contrair, mas que enxerga pela frente mais uma meia estagnação do que uma recuperação.

Por quê?

Ainda há uma incerteza grande na área fiscal que, com certeza, vai afetar decisões de investimentos. Precisamos do ajuste no mercado de trabalho. Há ainda a inflação, que está resistente. O Banco Central vai segurar o juro por um tempo.

Qual a sua previsão para o PIB no ano que vem, então?

Zero a 0,5%.

O que deixaria o sr. um pouco mais otimista?

Um avanço forte no andamento do ajuste fiscal. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.