Depois de mais de um ano, o Rio Iguaçu voltou a registrar vazões médias mensais acima dos índices estatísticos apurados em 70 anos de observação na região do reservatório da Usina Governador Bento Munhoz da Rocha Netto (Foz do Areia). Durante o mês de março, a afluência média ao lago da maior das 17 hidrelétricas da Companhia Paranaense de Energia (Copel) atingiu 673 mil litros de água por segundo, superando em 10% a média histórica para o mês, daquela unidade.

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Esse valor interrompeu uma série consecutiva iniciada em dezembro de 2005 de afluências mensais significativamente inferiores às médias históricas. Tal situação persistiu durante todo o ano passado e resultou numa das mais severas estiagens já observadas na bacia do principal rio paranaense, semelhante à do segundo semestre de 2003.

?Especialmente entre o final de julho e o início de agosto do ano passado, quando as vazões na região do Baixo Iguaçu estiveram extremamente baixas, os reservatórios das cinco hidrelétricas existentes ao longo do rio colaboraram de forma decisiva para que as vazões abaixo da Usina de Salto Caxias ficassem até 20% acima do que seria medido caso esses aproveitamentos não existissem?, informa o diretor de geração e transmissão de energia da Copel, Raul Munhoz Neto.

?Por causa da estiagem, a Usina de Salto Caxias simplesmente deixou de gerar energia por cerca de dois meses?, lembra Munhoz. ?E mesmo com o baixo volume armazenado, continuou liberando vazões da ordem de 200 mil litros de água por segundo para manter o equilíbrio natural no trecho de 200 quilômetros de rio entre a barragem e as Cataratas.?

Volumes críticos

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O diretor nota que, na época, as disponibilidades de água no Iguaçu assumiram valores considerados críticos e o volume médio de ocupação dos reservatórios caiu para 18% da sua capacidade de armazenamento. ?No trecho onde está localizada a Usina de Foz do Areia, por exemplo, foram registrados, entre maio e agosto, quatro meses seguidos de vazões extremamente baixas, que oscilaram entre 10% e 20% das médias mensais de longo termo?, observou. ?Em junho, a vazão média afluente em Foz do Areia ficou em 74 mil litros de água por segundo, a menor já verificada desde 1931 naquele ponto do rio, ou pouco mais de 10% dos 682 mil litros por segundo que correspondem à média mensal histórica para aquele mês.?

Na estiagem de 2006, o menor nível de acumulação no reservatório de Foz do Areia foi atingido em fins de julho, com preenchimento de 22% da capacidade de armazenamento. Desde que foi formado, em 1980, o nível mais baixo de preenchimento registrado nesse reservatório deu-se em outubro de 2003, quando o volume útil chegou a 15%.

Racionamento

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Raul Munhoz apóia seu raciocínio em fatos como a recente estiagem e os patamares de qualidade de vida das comunidades estabelecidas em rios regularizados. ?Não fossem as barragens de nossas hidrelétricas e a adequada operação de seus estoques de água, os três estados da região Sul poderiam ter sido obrigados a racionar energia elétrica, o que só não aconteceu porque havia abundância de água nos reservatórios de usinas situadas em outras regiões do País que puderam gerar praticamente no limite de sua potência e porque o sistema elétrico possui linhas de interligação capazes de transportar grandes blocos de energia por longas distâncias?, ressalta o diretor.

Ele cita que, em geral, os municípios localizados nas bacias dos rios regularizados por barragens possuem melhores indicadores de qualidade de vida que os das bacias de rios sem nenhum tipo de controle.

Barragens atuam em favor da população

Além da contribuição com a regularização da vazão dos rios em períodos de estiagem como a do ano passado, as barragens também atuam em favor da população e da natureza em situação hidrológica de cheias, servindo para amortecer os seus impactos e efeitos. ?Se numa estiagem os reservatórios auxiliam o controle das vazões liberando parcelas de seus estoques, quando há excesso de chuva eles fazem o inverso segurando parte das vazões, minimizando ou evitando inundações?, explica o diretor Raul Munhoz Neto.

Ele conta que a idéia de barrar os rios para ter algum controle sobre eles não é nova. ?Há 4 mil anos, os egípcios já faziam obras hidráulicas nas margens do Rio Nilo para reter a água das cheias e fertilizar o solo?, anota. ?Na Europa, rios importantes como o Danúbio e o Ródano têm barragens construídas em quase toda a sua extensão, o que assegura o uso múltiplo da água tanto para a navegação, regularização, abastecimento público, geração de eletricidade, lazer e perenização da biodiversidade?, acrescenta. ?No Brasil, infelizmente, a falta de informação e o desconhecimento ajudaram a propagar um conceito de que as barragens são nocivas e prejudiciais ao meio ambiente, quando acontece justamente o contrário.?