Foto: Valter Campanato/Agência Brasil |
Varig irá acomodar os passageiros em outras companhias aéreas. continua após a publicidade |
Depois de 13 meses em recuperação judicial, a Varig foi arrematada ontem em leilão por US$ 505 milhões pela Aero Transportes Aéreos S.A, razão social da ex-subsidiária de logística e transporte de cargas VarigLog.
Oito horas após o martelo ter sido batido, porém, a companhia anunciou que vai operar apenas a ponte aérea, de hoje até o dia 28. A freqüência nessa rota aumentou de 10 para 36 vôos diários, mas estão suspensos todas as demais linhas nacionais e internacionais. A Varig informa que os passageiros com passagens nesse período serão acomodados em outras companhias aéreas.
O preço pago pela VarigLog inclui US$ 20 milhões, que já foram desembolsados para custear a operação da companhia aérea até sua venda. Outros US$ 485 milhões estão reservados para investimento e obrigações que a VarigLog terá de assumir, nos próximos 10 anos, para contribuir com a redução do passivo de R$ 7,9 bilhões da companhia. O juiz Paulo Roberto Fragoso, que integra a comissão de juízes responsáveis pela recuperação judicial da Varig, disse que o negócio seria homologado ainda hoje.
"Para aqueles que apostaram que a Varig ia morrer, renasce aqui uma nova Varig. Não tenho medo do futuro", afirmou o presidente da Varig, Marcelo Bottini, logo após ter batido o martelo do leilão, que durou em torno de 20 minutos. Em até 3 dias, deverá ser divulgada uma lista com as demissões que serão realizadas, cerca de 8.000, e a nova diretoria da companhia.
Nos próximos 60 dias, a VarigLog deverá contratar 1.680 trabalhadores para a nova Varig, que deverá iniciar sua operação com 15 aeronaves. A informação é do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), que tomou conhecimento do planejamento em reunião com a VarigLog realizada esta semana.
Ontem, a Varig informou que tem em torno de 10.000 empregados e está voando com 13 aviões, de uma frota de cerca de 60 unidades. Nos próximos 12 meses, a idéia da VarigLog é ter uma frota de 30 aviões, com uma média mensal de até 2 jatos novos e a conseqüente contratação de até 110 empregados por avião.
"Temos inúmeros problemas a serem superados nos próximos 30 a 60 dias. Nossa luta não acabou com o leilão", disse a presidente do SNA, Graziella Baggio. A presidente do Sindicato Nacional dos Aeroviários, Selma Balbino, contou que os sindicatos pedirão uma audiência com o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, para discutir a situação dos empregados da Varig que serão demitidos.
Funcionários da Varig relatam que o programa de milhagem Smiles, com 6 milhões de usuários e R$ 70 milhões de milhas a serem honradas, estaria sendo negociado para a Aeroplan, programa de milhagem da Air Canada. Pelo plano de compra da VarigLog, o Smiles ficaria na nova Varig e a ex-subsidiária se comprometeu a honrar seu passivo de R$ 70 milhões.
"Em relação à Aeroplan, não só ela como outras empresas nós estamos tentado atraí-las para participar desse novo etapa da Varig. Não tem nada fechado ainda, nada assinado com ninguém", afirma o presidente do conselho de administração da VarigLog, Marco Antonio Audi. Além do Smiles, a nova Varig herdará a marca principal e a da subsidiária Rio Sul, além das concessões de rotas dessas duas empresas. Também terá toda a operação comercial, que inclui a venda de passagens.
A redução do passivo de R$ 7,9 bilhões da companhia ficará a cargo da chamada Varig antiga, que vai operar com a marca Nordeste apenas um vôo, o de ida e volta Congonhas-Porto Seguro. Essa empresa deverá contar com duas aeronaves para fazer fretamento para a nova Varig, num contrato de 3 anos que deverá render receita de R$ 15 milhões.
Também está previsto um centro de treinamento de pilotos, que será alugado pela nova Varig por 10 anos, o que vai render um faturamento de R$ 10 milhões nesse período. A Varig antiga também receberá aluguel de todos os imóveis da empresa.
O presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, disse que a Varig tem 30 dias após a agência homologar a venda para comprovar que tem condições de manter todas as suas linhas.
Nos últimos meses, a companhia aérea deixou de operar várias rotas, que foram atendidas por outras empresas em um plano de contingência preparado pela Anac. Zuanazzi disse ainda que a autorização do órgão dependerá do cumprimento dos pré-requisitos exigidos pela agência e que não há prazo definido para isso.
Principal desafio da nova empresa é reaver aviões
Rio e Brasília (AE) – A negociação com as empresas de leasing para reaver os aviões da Varig que estão parados, sob ameaça de arresto, ou já foram retomados, será o principal desafio da VarigLog, empresa que arrematou a Varig no leilão de ontem. O representante da VarigLog, João Luiz Souza, explicou que agora as negociações serão melhores porque a empresa já tem autoridade para fechar acordos em nome da Varig.
Atualmente uma consultoria, contratada pela VarigLog, trabalha para analisar quais os aviões que estão em melhores condições e seriam mais vantajosos para a Varig reaver, além de analisar também as aeronaves que estão paradas hoje sob ameaça de arresto. Segundo ele, será com base nessas informações que a nova companhia poderá definir sua malha e o número de funcionários que irá ter. ?Acredito que em 10 a 15 dias já se possa responder a essas perguntas?, disse.
O presidente da Varig, Marcelo Bottini, acredita que as negociações possam mudar radicalmente o desenho do tamanho da nova companhia. Em entrevista à imprensa, realizada após o leilão o representante da Volo, empresa que controla a VarigL og, Marco Antônio Audi, revelou que o grupo está negociando parcerias com empresas aéreas, entre elas a canadense Aeroplas, para dar fôlego à nova empresa. Entretanto, destacou que nada foi assinado oficialmente até o momento.
Audi disse que o juiz da 8.ª Vara Empresarial do Rio, Luiz Roberto Ayoub, vai solicitar à Justiça norte-americana a extensão do prazo que protege as aeronaves da Varig de arresto. Hoje será realizada em Nova York uma audiência para discutir o assunto.
Valor da compra
A Varig foi vendida por um preço mínimo de US$ 20 milhões para a VarigLog, que fez uma proposta total de US$ 500 milhões pela companhia aérea. A maior parte desses recursos serão investimentos na nova companhia que será criada para operar as rotas da antiga Varig. Além destes investimentos, a empresa está assumindo várias dívidas da companhia aérea, como as obrigações do programa de milhagem Smiles. Neste total está incluído também o equivalente a US$ 100 milhões em debêntures que serão convertidas em até 10% de participação acionária na nova companhia para os credores.
Nas próximas 48 horas, a VarigLog deverá fazer um depósito de US$ 75 milhões para a Varig, conforme o plano de investimentos previsto pela ex-subsidiária de logística e transporte de cargas.
Lista de funcionários
A lista de funcionários que serão aproveitados na nova empresa que será criada será divulgada nos próximos três dias. O representante da Volo, Marco Antônio Audi, explicou que esse número de empregados que serão aproveitados vai depender da quantidade de aeronaves que a nova empresa vai dispor. A companhia pretende negociar com empresas de leasing para voltar a operar com aeronaves que hoje estão paradas, sob ameaça de arresto.
Audi disse também que nos próximos dias será anunciada a nova diretoria da empresa. Mas confirmou que o atual presidente da Varig, Marcelo Bottini, vai continuar à frente da companhia aérea durante o período de transição que, segundo ele, não será curto. ?Acredito que Bottini é a pessoa certa para terminar o atual processo de recuperação da companhia?, disse.
Financiamento
O ministro da Defesa, Valdir Pires, disse que a venda da Varig para a VarigLog dá condições para que bancos financiem a companhia. Em entrevista na Base Aérea de Brasília, onde participou da entrega da medalha mérito Santos Dumont, Valdir Pires afirmou que a solução da venda foi a possível.
?Se for uma empresa que tenha condições, eu tenho a impressão que a Varig vai ter possibilidade de negociar financiamento com os bancos?, disse ele referindo-se à VarigLog. Pires deixou claro, no entanto, que o governo esperava uma outra solução para a empresa. ?Eu desejaria que nossas empresas tivessem feito um consórcio, se juntado e encontrado uma solução mais robusta?, disse.
?O juiz decidiu na circunstância que ele encontrou?, afirmou, referindo-se ao juiz Luiz Roberto Ayoub, que conduziu o processo de recuperação judicial da Varig. Segundo o ministro, a BR Distribuidora, o BNDES e a Infraero sempre estiveram abertos na busca de uma solução para a Varig. ?Evidentemente, (as ajudas) devem ser para pessoas jurídicas que têm crédito. Eu não encontro no detalhe de quem comprou. O que eu achei bom é que não tenha tido a falência.?