O comércio varejista brasileiro despencou no ano passado: encerrou 2016 com o pior movimento de vendas em 16 anos e retrocedeu para o nível de atividade registrado em 2012. No ano passado, o movimento nacional do comércio medido pelas consultas para vendas a prazo, com cartão de débito, de crédito e com cheque caiu 6,6% em relação a 2015, de acordo com o Indicador de Atividade do Comércio da Serasa Experian, que começou a ser apurado em 2001. Até 2015, a maior retração tinha ocorrido em 2002 (-4,9%), ano da crise de energia.
“Não esperávamos uma retração tão forte”, diz o economista da Serasa Experian, Luiz Rabi. Ele atribui esse desempenho aos juros e ao desemprego elevados, à falta de segurança do consumidor para ir às compras e à inflação alta, que afetou especialmente os supermercados, que vendem alimentos.
Apesar do tombo, o economista acredita que o setor ainda não bateu no fundo poço. “Vamos ter um primeiro semestre ainda muito negativo, com mais terra para cavar nesse buraco”, afirma o economista. Ele enxerga alguma reação a partir do segundo semestre, em resposta à queda dos juros e uma certa estabilização do mercado de trabalho.
Por conta disso, Rabi prevê que, depois de dois anos seguidos de queda, 2017 inteiro deve fechar empatado. Nas previsões do economista, o varejo só deverá retomar o pico de vendas, que foi em 2014, em 2020. “Vamos levar quatro anos para recuperar dois anos perdidos (2015 e 2016).”
Setores
Segmentos menos essenciais e dependentes de crédito tiveram as vendas no varejo mais afetadas no ano passado. O campeão de queda foi o de veículos, motos e peças, que teve retração de 13%. Os números da indústria automobilística confirmam o recuou. Em 2016, houve uma retração de 20% nas vendas de carros novos e o volume de vendas voltou para o nível de 2006, com 2,05 milhões de unidades.
De acordo com os dados da Serasa Experian, a segunda maior queda no movimento de vendas ocorreu no segmento de tecidos, vestuário, calçados e acessórios, com um recuo de 12,6% em 2016 ante 2015.
Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), diz que os dois últimos anos foram “tremendamente ruins” para os fabricantes. Em 2015 a retração de produção das fábricas foi de 14% e, no ano passado, a queda foi um pouco menor, entre 6% e 7%. Isso porque, com a valorização do dólar no final de 2015, muitos varejistas substituíram os importados pela produção nacional. Outro fator que ajudou na substituição foi a insegurança em relação ao desempenho do mercado e à rapidez de abastecer as lojas com mercadorias.
De toda forma, a substituição de importados não impediu que o setor amargasse perdas em 2016. Pimentel ressalta que a crise tornou a compra de itens de vestuário mais racional. “A compra por impulso é muito grande nesse setor.
O único setor acompanhado pela Serasa Experian que avançou em 2016 foi o de combustíveis. Rabi diz que houve uma troca das viagens de avião pelo turismo local e de carro, o que influenciou nesse resultado.
Eletroeletrônicos
As vendas de móveis, eletroeletrônicos e itens de informática, que sempre foram os produtos que comandaram o varejo nos momentos de bonança, recuaram 11,1% no ano passado, segundo o Indicador Serasa Experian de Atividade do Comércio.
Lourival Kiçula, presidente da Eletros, que reúne a indústria de eletroeletrônicos, diz que as vendas da indústria para o varejo caíram em todos os segmentos – eletrodomésticos da linha branca, da linha marrom (TVs e som) e eletroportáteis – no ano passado em relação ao ano anterior.
O recuo médio foi da ordem de 10% nos três segmentos. “2016 foi um ano bastante difícil, como há muito não se via”, diz o presidente da Eletros. Apesar da forte retração, ele destaca que o clima está diferente em relação ao ano passado: “Não se pensa em demissões”. Novos pedidos às indústrias vão depender dos estoques nas lojas, que serão conhecidos este mês pela Confederação Nacional do Comércio. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.