A injeção de US$ 600 bilhões na economia dos Estados Unidos através da compra de títulos do Tesouro, anunciada pelo banco central daquele país esta semana, pode provocar uma nova valorização do real perante a moeda norte-americana, ajudando a consolidar o impacto negativo do fenômeno sobre setores da economia paranaense, como a indústria e a agricultura.
De acordo com economistas, os setores têm mais a perder do que ganhar com o real valorizado, que prejudica as exportações e, a longo prazo, enfraquece segmentos. Porém, há também oportunidades a serem exploradas.
Para a economista Gilda Bozza, da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), o anúncio da medida provocou pelo menos um impacto positivo, que foi a valorização das commodities na bolsa de Chicago.
“A soja passou a valer US$ 28 (ou cerca de R$ 47) a saca. É a maior cotação dos últimos dois anos”, informa. Segundo Bozza, como o mercado interno acompanha as cotações de Chicago, é possível que produtos como a soja também valorizem aqui.
Ontem, a saca de 60 quilos estava cotada, no Paraná, a R$ 43,55. O milho, que no primeiro semestre era cotado a R$ 12,50 a saca, também passou por boa valorização nos últimos meses, e já vale R$ 19,93. “Apenas o trigo que está em um quadro perverso. É cotado a R$ 26,19 (a saca) e não sai disso”, diz.
Assim, a economista recomenda que os produtores fiquem atentos às cotações internacionais para definir se o momento é atrativo ou não para vender. “Acredito que é”, afirma.
No geral, porém, Bozza diz que, com o real valorizado demais, as exportações ficam prejudicadas. Ela lembra que de nada adianta as commodities terem cotações maiores, se o aumento chegar acompanhado de um dólar mais baixo.
Indústria
Apesar de ainda não ter estudado em detalhes o pacote norte-americano, o economista Roberto Zurcher, da Federação das Indústrias do Estado do Paraná Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), avalia que, se o plano provocar valorização do real, os produtos fabricados pelas indústrias paranaenses deverão ficar ainda menos competitivos no mercado internacional. “Por outro lado, nossas importações são favorecidas”, pondera.
Zurcher aponta um caso bem claro dos problemas que um real forte frente ao dólar podem trazer à indústria local: a crise na indústria madeireira paranaense, que vendia grande parte de sua produção aos Estados Unidos. “Muitas empresas fecharam as portas depois que o dólar começou a desvalorizar e também da crise imobiliária”, recorda.
Para o economista, além de prejudicar diretamente alguns setores, o câmbio pode trazer problemas para outros segmentos, como os que produzem insumos. “As importações de itens como parafusos, por exemplo, começam a crescer e isso vai diminuindo a atividade industrial interna”, afirma.
Ele lembra, também, que as montadoras de veículos, muito dependentes de importações, podem se aproveitar da situação – no entanto, há o risco de que isso afete fornecedores locais. “Não é fácil mudar o câmbio, mas espero que o próximo governo pense nisso”, cobra.