O município de Barreira, Ceará, com 18 mil habitantes, viveu uma revolução produtiva a partir de 1999, ano em que houve a primeira exportação de castanha de caju da cidade. Naquele momento, iniciou-se o processo que levaria à montagem de 8 minifábricas e 30 microunidades familiares de processamento, e a grandes melhoras técnicas na plantação de cajueiros. Em 2004, Barreira já exportava 100 toneladas de castanha por mês, no valor de US$ 80 mil.

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Hoje, com a enorme desvalorização do dólar, o município teme perder tudo o que foi conquistado. A receita obtida em reais com um quilo exportado de castanhas caiu de R$ 1,60, em 2004, para R$ 0,80. A exportação recuou para 40 toneladas por mês. "Nós estamos vivendo um retrocesso de seis anos, os produtores não conseguem mais tratar a terra nem custear a mecanização", diz Antônio Peixoto, principal liderança local do setor de caju. Ele lembra que o problema não se restringe ao município, já que o modelo de pequeno negócio agro-exportador de castanha estendeu-se para outras regiões do Nordeste, em Estados como Rio Grande do Norte e Piauí.

O caso de Barreira ilustra um risco da valorização cambial diferente do costumeiro alarme quanto à desindustrialização do País, que até agora ninguém conseguiu demonstrar que esteja mesmo acontecendo. Economistas como Eliana Cardoso, da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV), observam que o perigo do real forte é outro, e reside no fato de que a exportação é um dos maiores canais de aumento da produtividade da economia. "Os setores exportadores estão sempre à frente em termos de desempenho e de excelência", diz Claudio Vaz, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp).

Assim, à medida que o câmbio vai inviabilizando as vendas externas em diversos setores, histórias como a de Barreira – um município pobre do Nordeste que começa a viver um rápido processo de sofisticação da atividade produtiva e de aumento de salários – vão sendo interrompidas ou revertidas.

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