A indústria brasileira atingiu no mês passado o porcentual mais baixo de Utilização da Capacidade Instalada (UCI) desde fevereiro de 2009, de 78,5%, ou 79,7%, se considerados dados dessazonalizados. Esses dados estão presentes no estudo “Indicadores Industriais”, divulgado nesta terça-feira, 31, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Embora ainda não seja possível apontar que haja uma tendência de queda, o economista da CNI Fábio Guerra adverte que o cenário para o futuro próximo não é animador, devido à combinação de fatores como estoques elevados, produção baixa e demanda enfraquecida.

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Segundo o economista da CNI, ainda não é possível estimar quanto tempo levará para ser revertido o quadro de alta ociosidade ou se os dados de março mostrarão uma situação ainda pior. “O quadro certamente é de adversidade”, avalia. Ele lembra que, quando a demanda reaquecer, será preciso primeiro liberar estoques – que estão altos – para só depois retomar a produção. E isso leva tempo, adverte.

Guerra lembra que esse mais recente “Indicadores Industriais” mostrou que as horas trabalhadas caíram 0,5% em fevereiro na comparação com janeiro e 9,5% ante fevereiro do ano passado. Já a massa salarial real cresceu 0,4% ante janeiro, mas baixou 4,6% em relação a fevereiro de 2014. Esses são índices diretamente ligados à capacidade de compra, ou seja, à demanda.

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Conforme a pesquisa, o faturamento real (já descontada a inflação) cresceu 1,9% em fevereiro na comparação com janeiro. “As vendas subiram, mas depois de uma queda de três meses”, adverte o economista. Ou seja, o faturamento melhorou no mês passado, mas principalmente porque a comparação foi feita com uma base já fraca. Em relação a fevereiro do ano passado, entretanto, o faturamento caiu 9,6%. Na comparação dos dois primeiros meses deste ano com igual período de 2014, porém, fica evidente uma tendência de queda das vendas (-8,8%), avalia Guerra.

Segundo o economista da CNI, a intensidade de desaceleração da compra das famílias vem desde 2010, mas se acelerou nos últimos tempos. Ele lembrou dos dados divulgados na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontando que o consumo das famílias diminuiu o ritmo de alta para 0,9% no ano passado, após ter crescido a 2,9% em 2013; 3,9% em 2012; 4,8% em 2011; e 6,4% em 2010. Ou seja, ressalta Fábio Guerra, a demanda não responde mais na mesma intensidade que vinha apresentando em anos anteriores. Os problemas “tradicionais”, como alta tributação, burocracia elevada, deficiências de infraestrutura, entre outros, agora ficaram mais evidentes em cenário de falta de demanda, aponta o economista.

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Nesse cenário de adversidade, a depreciação do real perante o dólar promete ajudar a indústria brasileira, pelo lado das exportações. Por enquanto, porém, não há como calcular resultados. Guerra lembra que a tendência de câmbio é de alta, mas segue oscilante. “O empresário não consegue ainda se planejar para o horizonte de um ano”, destaca o economista. Para alguns setores, cita Guerra, pode não ser competitivo exportar se a cotação voltar para a casa de R$ 3,00 por dólar. Ou seja, primeiro será preciso esperar a cotação do dólar se estabilizar para só depois saber o quanto isso será benéfico para a indústria nacional.

O economista da CNI lembra que também será preciso observar um pouco mais a evolução da economia de importantes parceiros comerciais brasileiros, como Estados Unidos e China. O saldo final, na avaliação da CNI, é que o mercado externo é promissor, mas ainda não pode ser considerado uma alternativa firme para a indústria brasileira diante do desaquecimento interno.