Passados três anos desde o início de suas obras, a hidrelétrica Teles Pires, usina de 1.820 megawatts (MW), que está em construção no Rio Teles Pires, na divisa do Mato Grosso com o Pará, recebeu nesta quarta-feira, 19, sua licença de operação, concedida pelo Ibama. Com a autorização, o consórcio Companhia Hidrelétrica Teles Pires, dono da hidrelétrica, está liberado para fechar o rio e iniciar o enchimento da barragem, processo que deve durar cerca de duas semanas. A partir daí, a usina estaria pronta para começar a gerar energia. Mas, não.
Com suas turbinas prontas para serem acionadas, Teles Pires vive hoje o drama que já atrapalhou início das operações da hidrelétrica de Santo Antônio, em construção no Rio Madeira (Jirau e Santo Antônio), em Porto Velho (RO): a falta de uma linha de transmissão para escoar a energia.
Reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo” revelou em setembro que, a despeito da hidrelétrica ficar pronta neste fim de ano, sua linha de transmissão – que deveria ser entregue em janeiro de 2015 – só deve ficar em meados de maio, segundo fiscalização feita pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Hoje, membros da diretoria do consórcio da usina estiveram em Brasília para tratar do assunto. Enquanto a linha de transmissão não fica pronta, rotas alternativas para a distribuição da energia devem ser avaliadas. A reportagem tentou ouvir o consórcio, mas não obteve retorno até o fim desta edição.
Relevância
No momento em que o País aciona a capacidade de suas usinas térmicas – mais caras e poluentes – para garantir o abastecimento, Teles Pires teria um papel fundamental para colaborar com o reequilíbrio da geração hidrelétrica. Com seus 1.820 megawatts (MW) e um custo total de R$ 3,73 bilhões, a usina passa a ser a nona maior hidrelétrica em operação no Brasil.
Quando a presidente Dilma Rousseff assinou seu contrato de concessão, em junho de 2011, comemorou o fato de Teles Pires ter alcançado o menor preço de energia já registrado no País, de R$ 58,35 por megawatt/hora.
O lago da usina, que ocupará o municípios de Paranaíta (84%), no Mato Grosso, e de Jacareacanga (16%), no Pará, terá cerca de 70 quilômetros de comprimento e uma área total de 150 km quadrados.
Solo sagrado
Apesar de não causar um alagamento de grandes proporções, quando comparada a barragens de outros empreendimentos, Teles Pires vai deixar debaixo d’água uma das regiões mais belas do `Nortão’ do Mato Grosso: um extenso trecho de corredeiras e cachoeiras de água verde esmeralda, que formam as “Sete Quedas”. Além da beleza natural que atrai turistas para a região, as Sete Quedas também são consideradas um local sagrado pelos índios caiabis, que vivem a poucos quilômetros das corredeiras.
Com a operação da usina, o governo dá o primeiro passo concreto para erguer uma sucessão de hidrelétricas ao longo do Teles Pires, que é o principal afluente do grande Rio Tapajós. As planilhas do Ministério de Minas e Energia já monitoram outros quatro empreendimentos em construção: São Manoel (700 MW), Foz de Apiacás (230 MW), Colíder (300 MW) e Sinop (400 MW).
Além do pesado impacto ambiental que será causado pela sucessão de lagos que tomará conta do rio, outra polêmica envolve esses empreendimentos: nenhum deles prevê a construção de eclusas, ou seja, as represas passarão a viabilizar a navegação nos trechos, por conta da profundidade dos reservatórios, mas na realidade ficarão intransponíveis, por conta das barragens. Por trás dessa situação está a completa falta de entendimento entre os ministérios de Minas e Energia e dos Transportes, que não chegam a um acordo em relação às responsabilidades sobre cada um dos projetos.