Usina solar ainda vive fase ‘experimental’ no Brasil

É do empresário Eike Batista o primeiro projeto de uma usina solar de escala comercial no País. Ele inaugurou uma planta na cidade Tauá, no Ceará, em 2011, com capacidade instalada de 1 MW. Os planos, claro, eram ambiciosos. Já no projeto inicial, Eike previa multiplicar a capacidade por 50 em poucos anos, o que nunca aconteceu. Hoje, depois da crise que desmantelou o Grupo X, a usina tem cinco funcionários, pertence à alemã Eneva e continua produzindo seu modesto 1 MW.

De lá para cá, poucos projetos foram colocados em pé, a maioria em caráter experimental. Sem políticas próprias de financiamento nem perspectivas de leilões específicos, as empresas foram tocando projetos menores – mais para testar tecnologias do que para ganhar dinheiro. Em 2012, a CPFL inaugurou a usina de Tanquinho, em São Paulo, com o mesmo porte da usina de Eike. “A estrutura foi montada na área de uma das distribuidoras do grupo, para servir de laboratório”, diz Alessandro Gregori, diretor de novos negócios da CPFL Renováveis. No ano passado, a empresa chegou a cadastrar 300 MW de projetos de usina solar no primeiro leilão do governo federal, mas nada foi vendido. Na disputa marcada para o fim de outubro, que será exclusiva para fonte solar, a companhia vai marcar presença de novo.

A Tractebel, que opera a maior usina do País, em Santa Catarina, decidiu esperar mais um pouco para ver os resultados. A usina, que custou R$ 30 milhões para a companhia, é parte de um projeto de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da Agência Nacional de Energia Elétrica. “Estamos testando diferentes tecnologias e fornecedores para ver o que será mais vantajoso no Brasil”, diz Manoel Zaroni, presidente da Tractebel. Por enquanto, a energia está sendo vendida no mercado livre, diretamente para consumidores privados, onde os preços têm atingido recordes e beiram os R$ 670 por MW/h.

Estreia

Prestes a estrear nesse mercado, depois de dois anos de pesquisa, a Renova Energia diz que já conseguiu fazer a conta fechar e vai chegar ganhando dinheiro com a que será a maior usina solar do País, instalada na Bahia, na mesma área de uma usina eólica que também está em construção. “Será um projeto híbrido, que se complementa, já que os ventos são mais fortes à noite e a energia solar durante o dia”, diz Mathias Becker, diretor-presidente da Renova. “Toda a energia que será produzida já foi contrata e o projeto é rentável.”

A Renova também participará do leilão de outubro, que tem ao todo 400 projetos de energia solar cadastrados com capacidade instalada de 10 mil MW. Entre os participantes, certamente há companhias estrangeiras, que nos últimos dois anos vêm sondando o mercado brasileiro.

Isso ficou claro no ano passado quando o governo de Pernambuco, numa iniciativa inédita, realizou um leilão para impulsionar a energia solar no Estado. Foram contratados 122 MW de energia a um preço médio de R$ 228,63 MW/h. Entre as vencedoras, estão a italiana Enel Green Power e a alemã Sowitec.

“O interesse no mercado brasileiro existe e não é de agora”, afirma Roberto Barbieri, assessor da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica. O que falta, diz ele, é criar uma cadeia para atender esse mercado no País. “Aos poucos os fornecedores estão chegando, mas ainda há receio de que o leilão fracasse.”

Hoje, alguns dos componentes mais importantes de uma usina solar são importados. As células de silício que compõem um painel fotovoltaico, por exemplo, são compradas da China que, por sua vez, compra o “silício bruto” do Brasil, dono da maior reserva do mundo. “São distorções que vem emperrando esse mercado há anos”, diz Barbieri. “E que só com políticas públicas claras vamos conseguir eliminar.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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