O Uruguai deverá apresentar na próxima reunião do Mercosul a proposta de aumentar a flexibilização das regras do bloco que regem os acordos comerciais com outros países. Depois de uma rodada de consultas informais aos vizinhos – que incluiu uma sondagem à presidente Dilma Rousseff na manhã desta quinta-feira, 21, durante a visita de Estado do presidente Tabaré Vázquez ao Brasil – o governo uruguaio decidiu levar adiante a pressão pela liberalização das regras, acompanhado do Paraguai, no encontro de Brasília, em junho.

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“Não seria mudar as regras do Mercosul, seriam mudanças dentro das regras. Termos velocidades ou abrangência diferentes na negociação dos acordos comerciais”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo o presidente uruguaio, citando a sempre presente possibilidade de que a Argentina tenha dificuldades com acordos comerciais – algo que o governo de Cristina Kirchner nega. “Para uma economia do tamanho do Uruguai os acordos são vitais. Como está o bloco não nos satisfaz”, complementou.

A possibilidade de uma liberalização da regra 32 de 2000, que obriga os países do bloco a negociarem quaisquer acordos comerciais apenas em conjunto, ronda o Mercosul há algum tempo. É defendida principalmente por Uruguai e Paraguai. As menores economias do grupo, os dois países são os mais liberais nas duas importações e foram os primeiros a oferecer a liberação de mais de 90% dos seus produtos na tentativa de fechar um acordo com a União Europeia, contrabalançando a Argentina, que suou para alcançar os 87% mínimos acordados.

“Nossos países não vivem sozinhos e formam parte de um bloco regional com enorme potencial, mas que hoje não está à altura da sua razão de ser”, disse Tabaré em sua declaração no Palácio do Planalto, depois do encontro com Dilma. “Não se trata de dividir queixas e censuras, mas, ao contrário, de nos unirmos para resgatá-lo, animá-lo e fortalecê-lo”.

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Em sua declaração, Dilma não foi tão enfática, mas concordou que o Mercosul precisa “adaptar-se às circunstâncias”. “Coincidimos em que o Mercosul representa um importante patrimônio comum. Como diz o presidente Tabaré Vázquez, ‘o Mercosul tem sempre de se adaptar às novas circunstâncias'”, afirmou, completando: “O Mercosul é um ambicioso processo de integração em nossa região, graças ao qual conquistamos resultados bastante expressivos. Desde a criação do bloco, o comércio interno multiplicou-se por 11: passamos a quase US$ 52 bilhões em 2014”.

A fala da presidente revela a maior resistência do governo brasileiro em mudanças no bloco. O Brasil é o maior beneficiário desse crescimento exponencial e, apesar das pressões de setores empresariais, que defendem até mesmo o fim da união aduaneira, o governo brasileiro é reticente a mudanças muito bruscas. Aprova, por exemplo, que se ponha em prática flexibilizações hoje já previstas.

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Atualmente, é possível que um acordo comercial tenha prazos diferentes para entrada em vigor nos diferentes países, preveja exceções para a tarifa geral e que um dos países do bloco fique de fora. Mas não permite, por exemplo, acordos comerciais individuais.

Já a Argentina é a mais resistente. Normalmente quem tem mais dificuldade em liberar seus produtos em acordos comerciais, mesmo dentro do Mercosul, o país diz aceitar discutir as mudanças possíveis, mas não além disso. Fontes do governo argentino disseram ao jornal O Estado de S. Paulo que o governo de Cristina Kirchner iria com o consenso, mas aceitar abrir o bloco a acordos individuais, como seria o ideal para Paraguai e Uruguai não é aceitável, ou se acabaria com o Mercosul.