Universidades investem mais em cursos de pós-graduação

Foi-se o tempo em que cabia ao advogado apenas conhecer as leis; aos economistas, destrinchar os números da micro e da macroeconomia; aos médicos, salvar vidas. Cada vez mais, os profissionais estão precisando se aperfeiçoar e buscar conhecimentos até mesmo – ou principalmente – fora da área em que atuam. Percebendo este filão, instituições de ensino de Curitiba estão investindo cada vez mais em cursos de especialização.

“Vinte anos atrás, quando uma pessoa dizia que estava fazendo um curso de especialização, causava certo espanto. Hoje, dizer que não faz, o espanto é o mesmo. A especialização passou a ser condição não só necessária, mas fundamental”, apontou o pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa da Universidade Positivo, Luiz Hamilton Berton.

Só no Positivo, são cerca de 1,8 mil alunos de pós-graduação distribuídos em aproximadamente 70 turmas – quase um terço deles, segundo Berton, estão na área de gestão, a grande vedete do momento.
“A procura é muito grande principalmente por quem não é da área. Todo mundo administra a carreira, o dia-a-dia.

Profissionais liberais têm que conhecer ferramentas e técnicas para administrar o próprio negócio”, explicou, acrescentando que a gestão de pessoas é uma das que mais têm crescido nesse segmento. “Antes, gerenciar pessoas era tarefa apenas do RH (Recursos Humanos). Hoje, o gerente industrial também tem que gerenciar sua equipe.”

Berton reconhece, entretanto, que nem todos os que ingressam numa pós-graduação estão maduros o suficiente para absorver o conhecimento oferecido ao longo do curso, um desperdício de tempo (pelo menos 360 horas) e de dinheiro – as mensalidades variam de R$ 200 a R$ 2 mil, dependendo a escolha. No caso de uma especialização na área médica ou odontológica, o investimento pode chegar a R$ 40 mil.

“Muitos encaram a pós como se fosse ‘o quinto ano’ da graduação; não é uma escolha consciente atrelada à carreira. Esse público mais jovem ainda é a maioria”, revelou Berton. Já os programas de MBA (Master of Business Administration) Executivo reúnem principalmente profissionais do mercado que querem desafios. “Alguns escolhem cursos fora da ‘área de conforto’. Se têm dificuldade na área financeira, por exemplo, vão buscar exatamente isso.”

Bem abastecida

Luiz Hamilton: hoje, especialização
é necessidade.

Para o pró-reitor da Universidade Positivo, Curitiba está bem abastecida no que diz respeito a especializações. “Não há nenhuma área carente de oferta de cursos. Antes, para fazer uma especialização de ‘cirurgia minimamente invasiva’, por exemplo, era preciso ir para São Paulo. Hoje não”, apontou, acrescentando que a qualidade dos cursos “não só nossos, como da PUC, da Federal” não perde em nada para os de São Paulo ou do Rio.

A coordenadora de Marketing do Instituto Superior de Administração e Economia da Fundação Getúlio Vargas (Isae/FGV), Sulamita Mendes, concorda. “A gente não está perdendo em nada para outras capitais. Ouço, inclusive, pessoas dizendo que iriam para São Paulo fazer determinado curso porque não sabiam que existia aqui”, comentou. Parte do professores que ministram as aulas na unidade de Curitiba vem da rede FGV, do Rio de Janeiro e São Paulo.

Para Sulamita, a grande oferta de cursos de especialização exige que o aluno saiba fazer a escolha certa. “A educação é o maior investimento que uma pessoa pode fazer. Mas às vezes ela pega esse dinheiro ,e o coloca em uma escola que não tem referência, não oferece conteúdo. Acaba ficando apenas com um título no currículo.”

Para a coordenadora, entre os ramos que tendem a crescer no Paraná destaque para o turismo, agronegócio, software, gestão de saúde, direito.

Além dos cursos de MBA – onze no total, entre eles de gestão ambiental, comercial, financeira, com duração de 456 horas cada -, o Isae/FGV oferece cursos de média duração – 132 a 144 horas – e os de curta duração, administrados entre 12 e 40 horas, que abordam questões pontuais, como técnicas de pesquisa de mercado ou ainda finanças para não especialistas. À exceção do MBA, os demais cursos não exigem graduação. “Um diferencial da FGV é a responsabilidade social. É a única instituição do Paraná que faz isso de forma transversal”, arrematou Sulamita.

Como os cursos são formulados

Ficar de olho nas tendências é o primeiro passo para a instituição que quer lançar no mercado um novo curso de especialização. “Há cursos oferecidos uma única vez para atender a uma demanda muito específica. É o caso da engenharia do sistema digital, para a TV digital. É uma tecnologia que está aflorando e deve ter certa demanda, mas não é um curso para se oferecer todos os anos”, explicou Luiz Hamilton, da Positivo.

Segundo ele, a universidade oferta praticamente 90% do que é sugerido pelos professores. “É feita uma avaliação, verifica-se se existe mercado, onde já é ofertado. Há, claro, a questão do risco, cursos que não têm a procura esperada e que não saem.” As boas surpresas, porém, também acontecem. “Quando foi lançado o curso de desenvolvimento de jogos para computador, há cinco anos, achei que não daria certo, mas foi um sucesso: o primeiro do País e o único em Curitiba.”

Divulgação
Paulo Henrique: parceria com
mais de cem empresas.

A Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), que conta com cerca de 7 mil alunos na pós-graduação distribuídos em cerca de 300 cursos, costuma “ouvir” empresas parceiras para saber a demanda do mercado. “A PUC tem parceria com cerca de cem empresas. Temos buscado nos aproximar da indústria, trazer esse pessoal para dentro da universidade”, explicou o diretor de Educação Continuada da PUCPR, Paulo Henrique Laporte Ambrozewicz. Um exemplo é o curso de cosmetologia e cosmecêutica aplicada à estética, sugerido pelo O Boticário.

Segundo o diretor, a instituição conta com um grande leque de pesquisadores –
são 22 cursos de mestrado e doutorado – que estão em contato direto com as empresas, criando parcerias. “Às vezes, a gente joga no mercado um curso de ponta, mas o público não está preparado. Ou então o nome do curso não é bem compreendido.” Entre as áreas mais procuradas na PUCPR, destaque para a médica e odontológica, engenharia, direito e até educação. “O País voltou a crescer, e faltam engenheiros atualizados que conheçam as novas técnicas, novos produtos. Na área do Direito, muita coisa mudou também, como o Código Civil.” (LS)

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