O Brasil poderá ter problemas para exportar frangos para a União Européia a partir do final deste ano. É que, em janeiro de 2006, entra em vigor a proibição da UE ao uso de promotores de crescimento na criação das aves. Só a UE foi responsável por 19% das receitas brasileiras com as exportações de frango no ano passado. E a preocupação dos produtores é que outros países possam vir a adotar as mesmas exigências européias. Esses promotores de crescimento são antibióticos, usados de forma contínua na alimentação dos frangos em pelo menos 95% da produção brasileira.
E o tempo encurta para os produtores que exportam para a UE, que terão no máximo a possibilidade de criação de dois novos lotes de frangos com o uso dos promotores de crescimento. O terceiro lote já atingirá o limite máximo estabelecido pelos europeus para a eliminação desses antibióticos: 31 de dezembro deste ano.
No ano passado, o Brasil exportou 278 mil toneladas de frango para a UE, 11% do total vendido ao mercado externo. As receitas vindas da Europa somaram US$ 469 milhões, segundo dados da Abef (Associação Brasileira dos Exportadores de Frangos).
O setor produtor está ciente dessas limitações que serão impostas pelos europeus, mas pintam diferentes cenários para as exportações. ?É apenas mais uma barreira comercial e não vai se sustentar, principalmente porque eles precisam do nosso frango?, dizem uns. ?A proibição é uma questão alimentar e veio para ficar?, acrescentam outros.
Se eles têm opiniões diferentes sobre o cenário futuro, o mesmo não ocorre com a previsão de custos. São unânimes em afirmar que a eliminação dos promotores de crescimento vai aumentar os custos de produção e os europeus não parecem propensos a pagar essa diferença.
Bactérias resistentes
Os europeus exigem o fim do uso contínuo dos antibióticos na produção de carnes porque esses antibióticos podem criar bactérias mais resistentes, o que afetaria também a saúde humana, na avaliação deles.
Não existem ainda estudos científicos provando que os antibióticos usados na produção de carnes causam resistência no organismo humano, mas uma coisa é certa: independentemente disso, os europeus não os querem mais. O frango exportado para os europeus é o mesmo consumido pelos brasileiros.
Guilherme Minozzo, diretor da Alltech do Brasil, empresa que produz um substituto natural (sem química) para os promotores de crescimento, diz que a posição dos europeus ?é irreversível?.
?O Brasil, se quiser exportar para a Europa, terá de se adaptar (às exigências dos europeus)?. E acrescenta: ?Muitos países vão seguir a legislação européia?.
Outra empresa que sente a necessidade de o Brasil se preparar para o mercado europeu no próximo ano é a Basf. A empresa desenvolveu um produto específico para a substituição dos antibióticos. Ansgar Wille, diretor da divisão de química fina da empresa, diz que ?o objetivo é inovar, apresentando produtos naturais, sem a presença de antibióticos e sem restrições ao metabolismo humano e animal?.
A Macedo, Koerich S.A., de Santa Catarina, é uma das empresas que acreditam que os europeus vão até o fim com essa proibição. Após uma fase de testes, a Macedo começou a produzir, em escala comercial, ?frango verde? (alimentado apenas com produtos naturais) a partir de fevereiro.
?Reinventar? a produção
?A preocupação com o alimento seguro é legítima, mas existe muita pressão política e pânico injustificado?, diz Fernando Vargas, gerente de fomento da DaGranja, ao analisar a proibição européia.
Com o abate de 115 milhões de aves por ano e responsável por 1,5% das exportações brasileiras de frango, a paranaense DaGranja também começa a desenvolver um projeto piloto para a produção sem os promotores de crescimento. Vargas diz que a passagem do sistema de produção convencional para o natural não é tão simples. ?É reinventar a produção do frango industrial.?
Custo igual
Para se adequarem às exigências, os produtores podem simplesmente não usar os dois promotores de crescimento ainda permitidos (avilamicina e flavomicina), mas haverá perda de produção.
Produzir frango natural ainda é mais caro, principalmente porque a escala de produção é menor. ?Quanto ao preço, há uma tendência em se pagar mais pelo produto, mas não são todos que aceitam esse pagamento.? O custo, segundo um analista de mercado, pode variar de 10% a 20% a mais do que o convencional.