Mais de 10% do total de habitantes paranaenses são classificadas como extremamente pobres, próximos da situação de indigência. Os pobres foram classificados como os que não têm rendimento e também aqueles com renda mensal inferior a 25% do salário mínimo. Eles estão presentes tanto nas zonas rurais mais distantes como nos centros urbanos mais populosos. Uma radiografia completa da pobreza no Paraná foi apresentada ao governador Roberto Requião, ontem pelo vice-governador e secretário da Agricultura, Orlando Pessuti e pelo presidente do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Onaur Ruano.
Outro trabalho apresentado foi o zoneamento agrícola do Paraná, um trabalho que reúne 50 anos de informações agroclimáticas sobre todos os municípios paranaenses, reunidas num só estudo. Através dele, os agricultores podem ser orientados sobre o período ideal de plantio e a região indicada para as culturas para minimizar as perdas decorrentes de frustrações climáticas.
De acordo com Requião, os dois trabalhos são fundamentais para se conhecer a realidade do Paraná com profundidade. “Só se pode modificar uma realidade quando ela é conhecida em sua totalidade”, justificou. Através desse conhecimento, o governador pretende aprofundar o foco dos programas de governo, que devem ser voltados para o atendimento da pequena e média empresa paranaense e brasileira e também para a diversificação da produção agrícola.
O governador está preocupado em reverter o “quase monopólio” da agricultura, atualmente reduzido a duas ou três culturas de grãos que concentram mais de 60% da produção agrícola do Estado. “Se acontecer qualquer problema na Bolsa de Chicago, o Paraná vai a falência”, alertou Requião.
Segundo o governador, o mapa da pobreza levantado pelo Iapar complementa do trabalho sobre Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), levantado pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes). “Eles são coincidentes e mostram a dificuldade de crescimento dos municípios pobres por falta de alternativas de emprego e renda”.
O levantamento de informações para o mapeamento da pobreza teve como base os microdados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2000 e as informações das associações de municípios. De acordo com o pesquisador responsável, Rafael Fuentes, a população do Paraná está avaliada em 9,5 milhões de habitantes. Desse total, cerca de 1 milhão de pessoas estão classificadas como pobres. O estudo apontou que a Região Metropolitana de Curitiba (RMC) e a região de Londrina concentra o maior número de pobres do Estado. O estudo revela que 50% das pessoas pobres concentram-se em 48 municípios do Paraná.
Só a RMC tem 82 mil pessoas pobres, que sobrevivem com menos de 25% do salário mínimo e Londrina tem 28 mil pobres. Esse quadro decorre do elevado contingente de pessoas sem renda que saem dos municípios pobres e vão os grandes centros em busca de oportunidades de emprego e renda. A mesma movimentação ocorre também em outros pólos regionais como Maringá, Ponta Grossa, Cascavel, Foz do Iguaçu, Guarapuava e Umuarama. O município de Colombo, na RMC, também situa-se entre os mais pobres do Estado, de acordo com o mapa da pobreza levantado pelo Iapar.
Zoneamento ajudará a reverter perdas
O Zoneamento Agrícola apresentado ao governador é resultado de mais de 30 anos de trabalho e conhecimento desenvolvido pelos pesquisadores do Iapar. O estudo concentra todas as informações sobre clima, regime de chuvas, ventos, tipos de solos, que são necessárias para o produtor plantar com um mínimo de risco.
De acordo com o pesquisador responsável pelo estudo, Paulo Henrique Caramori, estima-se que as perdas em produtividade por falta de informações adequadas sobre clima e solo chegam a 40% da safra, que corresponde em prejuízos anuais de R$ 20,5 milhões. O zoneamento agrícola visa reverter essas perdas, porque reúne informações detalhadas de todos os municípios do Paraná.
O Zoneamento Agrícola do Paraná faz parte de um projeto nacional do Ministério da Agricultura. Ele apresenta como destaque a inclusão do plantio de soja na região do Arenito (Noroeste do Estado) e do milho safrinha como alternativa à culturas de inverno. Por falta de inclusão dessas duas culturas no zonemento oficial do Ministério da Agricultura, os produtores não conseguem fazer o seguro agrícola para essas culturas, o que eleva os prejuízos quando acontecem eventos climáticos.
Um exemplo de sucesso na produção agrícola em decorrência da aplicação do zoneamento agrícola foi a expansão do café adensado no Paraná. De acordo com o secretário Orlando Pessuti, a cultura começou no governo anterior de Requião (1991-1994) por iniciativa de pesquisadores do Iapar. O governo anterior deu prosseguimento ao programa e a produção de café adensado se proliferou nas regiões indicadas pelo zoneamento, como integrante da diversificação agrícola da pequena propriedade. Hoje o Paraná é campeão de produtividade com o café adensado, disse o secretário.
Produção agropecuária deve render R$ 26 bi
Este ano a produção agropecuária do Paraná deve render ao Estado, cerca de R$ 25,8 bilhões em renda correspondente ao Valor Bruto da Produção (VBP). Esse resultado, se confirmado até o final do ano, representa um crescimento de 37% sobre o VBP do ano passado, já consolidado, quando a produção agropecuária rendeu R$ 18,8 bilhões. Esse quadro foi divulgado nesta segunda-feira (16) pelo vice-governador e secretário da Agricultura e do Abastecimento, Orlando Pessuti durante apresentação do Mapa da Pobreza e do Zoneamento Agrícola do Paraná, realizada no Canal da Música, em Curitiba.
A produção agrícola vem apresentado uma evolução no Valor Bruto da Produção Agropecuária nos últimos nove anos. O rendimento verificado no ano passado representou um aumento de 28,7% sobre a produção agropecuária verificada em 2001.
Pessuti está encaminhando esse levantamento hoje para a Secretaria da Fazenda, que irá utilizar as informações para distribuição do ICMS que deve ser destinado para os municípios através do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). De acordo com a coordenadora do VBP, Gilka Andretta, 25% de toda a arrecadação de ICMS do Paraná é destinada aos municípios. E desse total, 8% saem da agropecuária, daí a importância de se divulgar o Valor Bruto da Produção Agropecuária anualmente.
Como nos anos anteriores, a produção de soja e milho vem liderando o rendimento da produção agropecuária do Estado. No VBP de 2002, a produção de soja e milho participou com um rendimento de R$ 6,4 bilhões do total. As principais culturas do Estado lideram o ranking do Valor Bruto da Produção, com 50% do resultado final. A pecuária contribuiu com 35% do VBP, o setor florestal contribuiu com 8%, as hortaliças contribuíram com 4,3% e de frutas com 2,4% do resultado final do VBP de 2002.
O levantamento do VBP mostra ainda o potencial de renda que pode ser explorado com outras culturas no Paraná. De acordo com Andretta, um hectare cultivado com frutas chega a produzir oito vezes o valor da produção com o cultivo de um hectare de grãos. O rendimento com o cultivo de hortaliças num hectare chega a ser 13 vezes maior que o cultivo de um hectare de grão, comparou a técnica.
De acordo com Pessuti, o governo deve utilizar as informações do VBP para direcionar o apoio da política agrícola do governo do Estado para a fruticultura e horticultura nos municípios com IDH mais baixo. Com isso, o governo espera evitar a migração da população rural para os grandes centros e promover o desenvolvimento socioeconômico nessas regiões, disse.