A União Européia (UE) irá enviar novas missões de veterinários para avaliar as condições fitossanitárias da carne brasileira, mas se recusou oficialmente nesta segunda-feira (16) a aceitar a idéia dos produtores irlandeses e britânicos de impor um embargo imediato ao produto nacional.
Em uma sessão no Parlamento Europeu, deputados e lobistas ligados aos produtores da Europa apresentaram as conclusões de uma investigação em que tentam provar que as condições da carne bovina nacional são inadequadas. Com fotos da situação degradante de alguns estabelecimentos e até uma filmagem de um fazendeiro aplicando hormônios ilegais em um animal, os produtores tentaram impressionar os deputados.
O departamento de veterinários da comissão rejeitou as conclusões do documento, alegando que as informações prestadas aos deputados são "incorretas, falsas e enganosas". Bruxelas, porém, deixa claro que, se até o final do ano o Brasil não implementar novas recomendações, um embargo poderia ser avaliado.
Segundo a campanha liderada pelos produtores, as acusações envolvem a falta de um sistema que possa rastrear e identificar a origem do gado brasileiro. "A maioria das fazendas visitadas não tem sistema de rastreabilidade", afirma a investigação, publicada após uma missão realizada em maio e que indica o perigo da febre aftosa no setor. Em algumas fazendas visitadas, os irlandeses apontam que os registros haviam sido cortados das orelhas do gado para impedir a identificação.
Outra acusação é de que produtos apenas colocam as identificações poucos dias antes de vender o animal, permitindo obter um preço maior.
A Comissão Européia, porém, rebateu os argumentos diante dos deputados, alegando que não há de fato uma exigência de que todo o gado no País seja identificado. O critério vale apenas para aqueles que serão exportados.
Trânsito
A segunda acusação dos produtores se refere à falta de controle no Brasil em relação à movimentação do gado de um local livre de aftosa e de outro onde não há garantias fitossanitárias. De acordo com a investigação, a movimentação entre as fronteiras é "generalizada". Um dos exemplos é o cruzamento do gado entre Mato Grosso, livre de aftosa, e Mato Grosso do Sul, que sofre embargo da UE.
Outro exemplo é do transporte de gado entre o Paraná – região embargada – e Rio Grande do Sul, um dos principais exportadores ao mercado europeu. Os produtores europeus acusam os exportadores do Rio Grande do Sul de comprarem gado do Paraná para exportar diante da falta de produto no Estado. Hoje, os europeus contam com embargos contra a carne de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul por causa da aftosa.
"O controle está sendo impossível", argumenta a investigação, que aponta "movimentos massivos todos os dias" de gado pelo País a falta de postos de controle nas fronteiras dos Estados e ainda inexistência de um monitoramento das estradas de terra. Para completar, os produtores europeus alertam para o fato de que muitos fazendeiros têm criação de gado nos dois lados da fronteira.
Mais uma vez, a Comissão Européia rebateu as críticas. Para os veterinários do bloco, o transporte de gado pode ocorrer, desde que esteja dentro das regras estipuladas de controle fitossanitário. Para a UE, não há qualquer problema no comércio entre o Paraná e o Rio Grande do Sul, já que para uma carne ser exportada, o gado precisa estar em uma zona livre de aftosa por 90 dias antes do abate do animal.
A comissão ainda tomou para si a responsabilidade de defender o Brasil, algo raro no bloco. Segundo os veterinários, o controle de movimento do gado brasileiro é praticado em todo o País e está sendo fundamental para impedir que a aftosa se prolifere para outros Estados.