Rio – Bastaram as primeiras negociações com a União Européia (UE) para que os investidores estrangeiros marcassem posição e ampliassem, no mundo dos negócios, as fronteiras que só serão redesenhadas no próximo dia 1.º de maio. Os países do Leste e do Centro da Europa receberam US$ 58,2 bilhões em investimentos produtivos nos três anos que separam os primeiros contatos e a ratificação da adesão ao bloco, em dezembro de 2002.
A quantia é o que foi destinado a República checa, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Polônia, Eslováquia e Eslovênia, segundo a Economist Intelligence Unit (EIU). Além desses, as pequenas ilhas mediterrâneas Chipre e Malta também entrarão para a UE.
Com essa montanha de recursos ? que ajudou o grupo a registrar um dos maiores crescimentos econômicos do mundo, acima de 4% nos últimos anos ?, os países do Centro e do Leste da Europa ganharam espaço na divisão global dos investimentos. A participação, que era de 1,9% em 2000, fechou o ano passado em 4,7%. Enquanto isso, a América Latina ficou estacionada em 6,5%, depois de chegar a ter mais de 10% do bolo mundial.
Os latinos vêm perdendo posição desde 2001. Há algumas indicações de que países como Polônia e República checa estão ocupando esse espaço. E o investidor tem bons motivos para isso ? afirma o economista Fernando Ribeiro, da Sobeet, entidade que reúne empresas transnacionais.
Os analistas são unânimes em afirmar que a mão-de-obra qualificada ? mais de 99% dos adultos são alfabetizados, contra 87% no Brasil ? e a proximidade dos mercados da Europa ocidental estão entre os motivos. E o trabalhador qualificado custa pouco: os salários médios variam de 269 euros mensais na Eslováquia a 1.029 na Eslovênia, neste último caso, a metade do que é pago em média na atual UE.
No “ranking” de intenções de investimento das mil maiores empresas globais, feito pela A.T. Kearney, Polônia, República checa e Hungria aparecem entre os 25 destinos favoritos. A região desperta o interesse para a instalação de filiais e também para o deslocamento de segmentos das matrizes, o chamado investimento “offshore”. A Eslováquia, por exemplo, tem recebido “call centers” e operações de logística.
Entre os setores para os quais os investidores têm maior apetite estão bens de consumo, automotivo, energia, serviços financeiros, farmacêutico, tecnologia e telecomunicações. A região, aliás, virou um pólo das montadoras na Europa e recebeu, só em 2003, US$ 2,5 bilhões em investimentos da Toyota e da Peugeot.
Vários desses setores despertaram o interesse dos investidores, sobretudo os europeus, no Brasil e na América Latina na década passada. Mas Franklin Trein, coordenador do Programa de Estudos Europeus da UFRJ, não vê a ampliação da UE como uma ameaça.
Praga, capital dos negócios
Praga, capital da República checa, será a capital dos negócios da região que abriga os países que vão se integrar à UE. Esta é a opinião de 41% dos 315 executivos de pequenas, médias e grandes empresas de todo o mundo, ouvidos pela Accenture e pela Economist Intelligence Unit ? braço de pesquisas e análise da revista britânica The Economist.
Predominantemente vindas da Europa (62%) e da América do Norte (21%), as empresas que eles representam vêem com muito bons olhos a nova UE: 91% aprovam o processo de ampliação e 48% apostam em maior crescimento econômico da Europa integrada. Por isso, os investimentos tendem a se acelerar nos dez novos membros, segundo 52% dos entrevistados.
Os principais pontos favoráveis das economias que entrarão para o bloco são o fato de serem um mercado consumidor novo (61%) e o baixo custo da mão-de-obra (57%). Gargalos institucionais são o maior entrave ? na média, 42% dos executivos se queixam desse problema.