Turismo ressurge numa Argentina que se recupera

A classe média argentina já dá sinais de recuperação. Segundo o governo, no quarto trimestre deste ano o consumo do setor privado aumentou 2,2%, puxado, em grande medida, pelos segmentos médios, os mais castigados pela recessão que começou em meados de 1998.

A Secretaria de Turismo calcula que haverá no país uma explosão do turismo interno, claro sinal de que a classe média está ressurgindo das cinzas. Balneários como Mar del Plata, Villa Gesell e Pinamar, localizados na província de Buenos Aires, serão invadidos pelos próprios argentinos. Em outras regiões do país, como a província de Córdoba, são esperados 3,5 milhões de turistas.

?Em Mar del Plata será a melhor temporada dos últimos cinco anos. Segundo pesquisa realizada pelo governo, os turistas permanecerão entre sete e dez dias na cidade?, indica um relatório da Secretaria de Turismo. Uma passagem de ônibus a Mar del Plata, que fica a 400 quilômetros de Buenos Aires, custa em torno de 30 pesos.

? Agora que a situação melhorou um pouco, decidimos tirar uma semana de descanso e a melhor alternativa é uma praia perto de Buenos Aires ? diz a professora de inglês Irma Campos, de 52 anos, mãe de três filhos.

Em 2003, pela primeira vez desde 1998, a maioria dos argentinos acredita que no próximo ano a situação do país vai melhorar. Segundo o Ministério da Economia, a Argentina fechará o ano com expansão de quase 8%. A projeção para 2004 oscila entre 4% e 5%.

? A classe média está recuperando a confiança no país, entre outras coisas, porque percebe um princípio de reativação econômica. Nos últimos meses foram criados cerca de 380 mil empregos, a produção industrial cresceu 18,4% no ano, e a inflação foi contida pelo governo. Há motivos para ser otimista ? diz o economista Norberto Sosa, da consultoria Raymond James.

Alguns dados mostram que a classe média argentina superou o pior momento da crise: em janeiro passado, 23% dos argentinos deviam, pelo menos, três meses de condomínio. Hoje, o percentual caiu para 12%. Nos últimos meses, a venda de alimentos cresceu mais de 15%. A compra de celulares é outro exemplo: mensalmente são adquiridos 160 mil novos aparelhos. Hoje, existem 7,2 milhões de celulares em operação no país.

Meta agora é renegociar dívida com FMI

Embora não admita flexibilizar sua posição no que diz respeito à renegociação da dívida pública, como pretende o Fundo Monetário Internacional (FMI), o governo da Argentina decidiu mostrar que pretende se reconciliar com a instituição. Na tentativa de demonstrar seu objetivo de acelerar a negociação, o ministro da Economia, Roberto Lavagna, criou um registro internacional de credores prejudicados pela moratória decretada em dezembro de 2001.

A iniciativa foi lançada semana passada, poucos dias após a partida de uma missão secreta do Fundo que passou alguns dias no país.

? Procuramos ter maior controle sobre as pessoas que participarão da renegociação, evitando a pulverização do número de credores ? disse o chefe de gabinete Alberto Fernández.

O relacionamento entre a Argentina e o FMI entrou em crise nos primeiros dias de novembro. No começo de dezembro, o presidente Néstor Kirchner decidiu abrir o jogo e acusou o Fundo de querer boicotar a reativação econômica de seu país. Fontes do governo afirmaram que o organismo está pressionando Kirchner para que este eleve a meta de superávit fiscal (atualmente de 3% do PIB) e melhore sua oferta aos credores externos.

Em setembro, durante a assembléia anual do FMI, em Dubai, o governo Kirchner divulgou uma oferta provisória que prevê redução de 75% no valor nominal dos títulos públicos argentinos. Mas o país ainda não estabeleceu juros e prazo de vencimento dos bônus a serem emitidos. O montante a ser renegociado é de cerca de US$ 80 bilhões.

A proposta definitiva será apresentada em fevereiro, e para isso o Ministério da Economia precisa elaborar uma relação das vítimas do calote. O novo registro servirá para facilitar o processo de reestruturação da dívida. Os interessados poderão inscrever-se em escritórios que funcionarão, a partir de 12 de janeiro, nas cidades de Buenos Aires, Washington, Tóquio, Frankfurt, Roma e Londres.

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