Enquanto os fatores externos praticamente zeraram as viagens internacionais de lazer de brasileiros, o mercado doméstico tem tudo para crescer. Porém ainda faltam infra-estrutura e ações governamentais específicas para o desenvolvimento do turismo no Brasil. Esse é o cenário traçado pelo presidente da Abav/PR (Associação Brasileira de Agentes de Viagem do Paraná), Joel Duarte, na abertura do 9.º Salão Profissional de Turismo, que termina hoje no Marumby Expo Center, em Curitiba. “Os 220 expositores juntos esperam alavancar negócios de R$ 120 milhões nos próximos doze meses, podendo chegar a R$ 250 milhões caso a economia melhore”, destaca Duarte.
O presidente da Abav/PR relata que a crise do turismo exportativo já dura quatro anos, desde o fim da âncora cambial em janeiro de 99. “Algumas operadoras tradicionais, como a Soletur, não agüentaram a crise, que se agravou em 2001 com os atentados nos EUA e em 2002 por causa da iminência do conflito no Iraque e da disparada do dólar”, historia. Além da conjuntura internacional, também pesou negativamente o câmbio caro para o nível de renda dos assalariados brasileiros. “Os preços nominais são atrativos, mas não para uma família”, comenta Durte. Um pacote internacional para um casal custa de R$ 10 mil a R$ 12 mil.
“Com a guerra, a situação se complicou, por causa do problema emocional. As pessoas não querem se ausentar do País, preferindo ficar com seus familiares”, constata. “A demanda de turismo internacional praticamente cessou. Hoje de cada dez pessoas que viajam para fora, oito são executivos porque precisam trabalhar”, cita o presidente da Abav/PR. Até 99, antes da desvalorização do real, mais de 70% dos viajantes internacionais eram turistas. Hoje, 80% das vendas das agências são dentro do território brasileiro.
Nessa alta temporada (de dezembro a fevereiro), esse público que deixou de viajar para o exterior voltou-se para o consumo de produtos de turismo no Brasil. “Isso criou um boom. Os agentes de viagem e toda indústria de turismo tiveram que se reposicionar nesse novo cenário, voltado para investimento doméstico”, relata Duarte, ressaltando que o turismo internacional vai demorar para voltar aos níveis de quatro anos atrás.
Mudar a imagem
Embora o incentivo ao turismo nacional traga benefícios de emprego e renda, evidencia o despreparo da infra-estrutura do País para atender essa demanda repentina. “Esse momento é histórico para o turismo brasileiro. O Brasil é barato para os turistas estrangeiros que vêm com dólar e euro e os grandes grupos econômicos estão sacando que o País é a bola da vez”, diz o presidente da Abav/PR. O Brasil tem 8,5 mil quilômetros de costa, mas apenas 38 resorts catalogados. “A oferta foi escassa na temporada passada, por isso o turismo ainda é caro no Brasil”, assinala Duarte. Em 20 quilômetros do Ceará, no trecho de Fortaleza até a Praia do Futuro, um grupo português está construindo dez hotéis, com 4,2 mil apartamentos.
“A política da Abav é explorem o turismo, não explorem o turista”, afirma o dirigente da entidade. A falta de estratégias de incremento ao setor faz com que o setor tente sobreviver com as altas taxas cobradas nos três meses de verão e feriados prolongados para enfrentar o restante do ano com unidades turísticas completamente ociosas. Colaborar para a mudança desse perfil é uma das bandeiras da Abav. “O litoral do Paraná não pode viver 100% da alta temporada; precisa de atrações ao longo do ano, como festivais culturais e gastronômicos, mas precisa também existir vontade política dos municípios para a coisa acontecer”. Outro segmento em expansão é o de cruzeiros marítimos. Na abertura do Salão, Duarte sugeriu ao governo estadual que prepare o Porto de Paranaguá para receber navios desse porte.
Para conquistar os visitantes internacionais, diz ele, o Brasil precisa mudar sua imagem. “O que acontece no Rio de Janeiro assusta os turistas. O turismo sexual no Nordeste também denigre nossa imagem”, exemplifica. Duarte classifica como ousada a meta do governo Lula de atrair 9 milhões de turistas estrangeiros em quatro anos. Os números vem caindo: de 5,1 milhões em 2000 para 4,5 milhões em 2001 e 3,8 milhões no ano passado. Em 2002, a Argentina recebeu 8,7 milhões de estrangeiros.
Enquanto as novas ações não passam do plano das discussões, o setor de agências de viagens não espera crescimento do faturamento nesse ano. “Deve ficar no mesmo nível dos dois últimos anos”, prevê Duarte. Mas com políticas eficientes, ele acredita que o turismo se transforme na principal fonte de recursos para o País, que tem condições de ampliar em até 40% o número de visitantes estrangeiros.
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