O dinheiro para financiar projetos de infraestrutura no mercado internacional deve ficar mais disputado a partir de 2017, por causa dos planos de investimento prometidos pelo novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que quer investir US$ 1 trilhão na área. O Reino Unido também promete dar reforço extra a projetos no segmento. A investida dos países desenvolvidos ocorre ao mesmo tempo em que o Brasil tenta atrair estrangeiros para projetos de concessões. Gestores avaliam que o País segue atrativo, mas mostram cautela com a nova crise política, que pode fazer investidores adiarem decisões de aportes.

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Analistas e gestores ressaltam que o investidor de infraestrutura é de longo prazo e procura sempre os projetos mais rentáveis ao redor do mundo, além de garantia de estabilidade política, de regras e segurança jurídica.

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Portanto, o avanço na agenda de reformas do presidente Michel Temer – principalmente o ajuste fiscal – é essencial para atrair esse capital, de forma que possibilite uma trajetória mais sustentável de expansão da dívida pública e permita outras reformas, incluindo microeconômicas, para melhorar o ambiente de negócios no País, ainda muito mal avaliado no ranking de facilidade de negócios do Banco Mundial.

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Ao mesmo tempo, alguns especialistas minimizam o risco de concorrência direta do Brasil com recursos que financiariam projetos nos EUA e na Europa. A China, por exemplo, vem demonstrando interesse em investir no Brasil e deve seguir sendo um dos principais interessados nos próximos leilões de concessão. O Brasil também tem atraído investidores europeus, sobretudo espanhóis, que vem reforçando a intenção de aportar recursos no País.

Em viagens recentes com investidores em Nova York, os ministros do Planejamento, Dyogo Oliveira, e da Fazenda, Henrique Meirelles, reafirmaram, em locais como o Bank of America, Goldman Sachs, Morgan Stanley e na gestora BlackRock, o compromisso do governo com a estabilidade de regras e o cumprimento de contratos. Outro ponto destacado nas conversas é que nos novos projetos de concessão, o objetivo vai ser reforçar a competição e, portanto, será o mercado, e não o governo, que vai determinar as taxas de retorno.

Interesse

Na Europa, antes da mais nova crise política no Brasil, o primeiro escalão do governo visitou cidades como Londres para “vender” a potenciais investidores projetos de infraestrutura.

Capitaneada pelo secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimento (PPI), Wellington Moreira Franco, a comitiva participou de encontros com o governo e investidores, concedeu entrevistas à imprensa local para mostrar a “nova cara do Brasil” e conduziu palestras sobre as oportunidades e privatizações no País.

Apresentando números negativos da economia doméstica e atribuindo-os ao governo anterior, de Dilma Rousseff, os ministros afirmaram aos investidores que querem aumentar o volume de contratações e a aposta na retomada será por meio de projetos de logística e de áreas afins.

Alguns presentes nos eventos declararam ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, que a perspectiva de retomada da economia doméstica entusiasma investimentos no setor produtivo, principalmente com a perspectiva de redução da taxa de juros, ainda em dois dígitos. Esses depoimentos, no entanto, foram sempre seguidos de uma dose de cautela com as incertezas sobre a política doméstica e seus impactos sobre a economia.

Instabilidade

Para o diretor de investimento da gestora Standard Life Investments, que administra US$ 360 bilhões, Nicolas Jaquier, a instabilidade política preocupa no curto prazo no Brasil, mas o País está conseguindo dar passos “encorajadores” para melhorar a situação fiscal e evitar a quebra do governo, como a recente aprovação nos dois turnos no Senado da proposta de emenda à Constituição (PEC) que estabelece um teto para o aumento do gasto público, o que é um bom sinal para o investidor estrangeiro.

O economista-chefe do banco PNC Financial, Stuart Hoffman, ressalta em um relatório a investidores o temor de piora do quadro político do País em 2017, com Temer passando por problemas semelhantes aos enfrentados por Dilma Rousseff.

Vários dos ministros do peemedebista foram acusados de recebimento de propina e a delação da Odebrecht pode provocar mais instabilidade nos próximos meses. Embora o investidor de infraestrutura tenha perfil de longo prazo, a instabilidade política no curto prazo pode fazê-lo adiar decisões de gastos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.