O brasileiro Roberto Azevêdo, eleito novo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), cercou-se nesta terça-feira de uma “tropa de choque” de países emergentes para assegurar que uma eventual vitória não seria contestada, mesmo não contando com o apoio dos países ricos. No Itamaraty e mesmo entre diplomatas na OMC, havia o temor de que, por não ter o apoio dos ricos, Azevêdo poderia ter a candidatura afetada. Nesta segunda-feira, 6, a União Europeia (UE) decidiu que daria todos os 28 votos para o mexicano Hermínio Blanco. Vinte e quatro horas antes do fim da votação, Azevêdo disparou telefonemas aos aliados para garantir que não mudariam de opinião. O esforço final teria dado resultado, com uma votação expressiva e que confirmou uma vitória sem questionamentos.

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Blanco telefonou a Azevêdo minutos depois de saber o resultado para reconhecer a vitória do brasileiro. Estados Unidos e Europa também já haviam indicado pela manhã que, se Azevêdo vencesse, não se oporiam. De acordo com diplomatas de alto escalão do comércio internacional, a decisão de norte-americanos e europeus de não se opor tinha um motivo: sabiam que, diante do número avassalador de votos de Azevêdo no mundo em desenvolvimento, criariam uma perigosa crise se tentassem impor sua visão.

“Em 1999, uma situação parecida ocorreu”, afirmou um experiente diplomata. “Naquela ocasião, os países emergentes votaram por um tailandês e os ricos, pela Nova Zelândia. Em número de votos, a Tailândia ganhou. Mas a pressão para que não assumisse foi tão grande que o mandato acabou sendo dividido entre os dois. Agora, essa pressão dos países ricos não tinha chance sequer de ser considerada”, afirmou. O brasileiro ainda criou uma verdadeira tropa de choque para blindar a candidatura e servir de cabo eleitoral. Oito países emergentes – entre eles os membros dos Brics (além do Brasil, a Rússia, a Índia, a China a e África do Sul) – saíram em busca de apoio ao brasileiro, insistindo que a vitória seria a da visão do mundo em desenvolvimento.

A meta era a de conseguir que, mesmo sem votos expressivos do países ricos, Azevêdo tivesse um número tão elevado no mundo em desenvolvimento que apenas uma crise política internacional o derrubasse. “Não aceitaríamos que, por ele não ter os votos de Bruxelas e de Washington, não fosse considerado o vencedor”, disse um negociador chinês. A lógica é simples: hoje, o mundo emergente já tem 50% do comércio mundial e, ao fim dos eventuais dois mandatos de Azevêdo, os países ricos terão pela primeira vez na história menos da metade dos fluxos internacionais de comércio. “Haveria uma revolta se a OMC optasse por Blanco, apenas pelo fato de ele ter o apoio de americanos e europeus”, admitiu um diplomata árabe.

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Pioneiro

Esta será a primeira vez que um brasileiro passa a ocupar a direção de uma entidade central na gestão da economia mundial. O País ocupa a direção da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e também já liderou o Alto-Comissariado de Direitos Humanos da ONU. Mas, entre diplomatas e mesmo políticos, essas duas organizações têm peso secundário. A vitória é, para muitos dentro do Itamaraty, a coroação dos esforços da diplomacia em pôr o País num posto de protagonismo mundial, ainda que Azevêdo esteja assumindo hoje uma entidade com a credibilidade em baixa. A vitória será também usada como um instrumento para insistir que o Brasil está pronto para assumir novas funções internacionais, até em locais que eram ocupados por tradicionais potências.

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O comando da OMC foi por anos uma das metas da diplomacia brasileira. O primeiro candidato real a ter chances foi Rubens Ricupero, nos anos 1990 – mas as chances foram anuladas após ser flagrado numa gravação fazendo comentários sobre a economia. Uma segunda tentativa seria realizada anos depois, mas já como uma estratégia para anular o Uruguai, país na época considerado como tendo posturas que favoreceriam os países ricos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.