Brasília (AE) – A colheita da segunda maior safra de trigo da história levou o governo a preparar um pacote de apoio à comercialização, informou ontem o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Ivan Wedekin. O temor é de que os preços caiam de forma acentuada, o que poderia desestimular a produção. Ele anunciou duas medidas que serão adotadas de forma imediata pelo governo: leilões de Prêmio de Escoamento da Produção (PEP) para 800 mil toneladas e Aquisições do Governo Federal (EGFs) para 200 mil toneladas.
O governo pretende atuar também em outras duas frentes. O Ministério da Agricultura negocia com a Fazenda a venda de contratos de opção para 600 mil toneladas de trigo e a possibilidade de uma Linha Especial de Crédito à Comercialização (LEC). “Com R$ 100 milhões para a LEC, poderemos atender à demanda para estocagem de trigo”, disse o secretário. No total, esses quatro instrumentos poderão “atender” a 1,6 milhão de toneladas de trigo, 30% da produção nacional.
A colheita de trigo em 2004 deve somar 6,074 milhões de toneladas, mostra o último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). De acordo com o secretário, a maior colheita foi na safra 86/87, de 6,127 milhões de toneladas. “A safra de 2004 é a melhor desde que houve a desregulamentação do mercado de trigo, no governo Collor”, disse Wedekin. Até 1990, o mercado de trigo era regulamentado pelo governo, que financiava a produção, comprava o trigo dos produtores, vendia semanalmente cotas para os moinhos e, por fim, tabelava o preço do pão. “O subsídio a essa estrutura chegou a custar US$ 2 bilhões por ano” afirmou Wedekin, com base em dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Com o mercado livre, a produção caiu para 1,524 milhão de toneladas em 1994. No entanto, a cadeia produtiva se organizou e traçou uma meta de produzir 50% do consumo interno até 2005. A previsão é de consumo interno de 10,16 milhões de toneladas de trigo neste ano. “Mas, com o crescimento da economia, a demanda pode crescer”, comemorou o secretário. A produção interna de trigo vem aumentando. Em 2003, a colheita foi de 5,851 milhões de toneladas, o que permitiu ao setor cumprir a meta antes do previsto.
Wedekin também divulgou dados relativos à exportação de trigo. No acumulado desde dezembro de 2003, as exportações somam 1,038 milhão de toneladas. No entanto, ele acredita que a queda dos preços internacionais tira a competitividade do trigo nacional, ou seja, a expectativa é de recuo nas exportações no curto prazo.
