economia

Três meses de atraso e imóvel em leilão

O sonho de Mírian Bigão Moretti acabou em 17 de outubro de 2017. Naquela terça-feira, a professora foi avisada de que o apartamento 903 do Edifício Enseada não pertencia mais à família Moretti. “O apartamento tinha uma varanda enorme. Avisaram em uma carta que não era mais nosso. Deve estar imundo, deve estar uma tristeza lá dentro.”

A economia ainda crescia quando a professora e o comerciante Wellington Ferreira começaram a pensar em trocar de imóvel. Colocaram à venda o antigo e pequeno apartamento e começaram a procurar outro na Ponta da Praia, em Santos, bairro onde o casal morava.

Encontraram um de três quartos e 141 metros quadrados de frente para o mar e a poucos metros da balsa que liga Santos a Guarujá. Pelo apartamento no 9.º andar do segundo mais antigo edifício construído na orla santista o casal ofereceu R$ 500 mil. Foram R$ 150 mil de entrada e o restante seria financiado em mais de 20 anos pelo banco Santander.

“Começamos a pagar os boletos em julho de 2015. A parcela era de R$ 5.148,30 e ia caindo aos poucos”, lembra. “Eu dava aula na rede municipal e meu marido cuidava da nossa loja de pescados. Tudo ia muito bem.”

Naquela época, o Empório Fera Mar garantia boa parte das contas da família com a venda de pescados congelados, vinhos e temperos. “Mas aí veio a crise, o movimento caiu e cheques começaram a voltar. Nossa renda tinha caído à metade.”

Sem dinheiro, Mírian diz que o pagamento dos boletos começou a atrasar no primeiro semestre de 2017. “Deixamos de pagar uma e depois duas parcelas. Tentamos negociar, mas as condições eram muito duras.”

Quando a família acumulou três meses sem pagamento – pouco mais de R$ 15 mil -, uma empresa contratada pelo banco começou a pedir quase R$ 25 mil para evitar o despejo. “Tentei falar com o gerente da agência bancária, mas a dívida não estava mais lá.”

O Santander informou que “ofereceu diferentes alternativas de renegociação, incluindo fluxos de pagamento flexíveis, visando à adequação do vencimento e dos valores das parcelas à capacidade financeira da cliente”. Entre as propostas oferecidas ao casal houve até oferta de orientação financeira, diz o banco.

Exposição

Mesmo assim, Mírian reclama que todo o processo de cobrança, liquidação e entrega do imóvel foi muito rápido. “Foram quatro ou cinco meses entre o atraso, a tentativa de negociar e o dia em que entregamos a chave na mão do juiz. Me dá até vontade de chorar”, lamenta.

Ela ressalta ainda que os procedimentos adotados pelo banco ignoraram dificuldades da família, como a filha de 13 anos com Síndrome de Down, e ainda expuseram o caso sem necessidade. “Ainda morávamos lá quando entregaram um folheto em cada caixa de correio do prédio para anunciar que nosso apartamento seria retomado e oferecido em leilão. Precisavam nos expor assim?”

O banco diz que o leilão “tem como objetivo a obtenção de melhores preços de venda”. Conforme o valor de venda da unidade em leilão, explica o Santander, pode haver, inclusive, “crédito ao cliente caso os valores superem os débitos”.

No site do banco, o apartamento 908 do Edifício Enseada aparece como “vendido”. Apesar disso, Mírian diz que não recebeu nenhum centavo até agora. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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