Trabalho em rede multiplica ações do Terceiro Setor

Para o Terceiro Setor, o significado da palavra ?rede? vai além de ?entrelaçamento de fios com aberturas regulares que formam uma espécie de tecido?. Isto porque, a partir da noção de entrelaçamento, malha e estrutura descentralizada, a palavra rede ganhou novos significados, passando a ser empregada em diferentes situações.

De acordo com o programa Rede Social do Senac São Paulo, essa rede é: ?um sistema capaz de reunir e organizar pessoas e instituições de forma igualitária e democrática, a fim de construir novos compromissos que beneficiem a vida das comunidades?.

Assim, as redes sociais são estruturas horizontais, sem hierarquia, nas quais as idéias de igualdade e democracia são fundamentais. Essas redes são formadas por organizações com algum objetivo comum a todas que guia as discussões e a troca de informações, aumentando o resultado das ações realizadas.

Um exemplo de instituição social paranaense que participa de uma rede é a Ciranda – Central de Notícias os Direitos da Infância e Adolescência. Foi a partir da Rede ANDI (Agência de Notícias dos Direitos da Infância) que a Ciranda foi criada, como nos conta Lilian Romão, coordenadora de relações institucionais da Ciranda: ?a Ciranda nasceu de um projeto de rede que disseminasse notícias sobre a infância a adolescência em cada estado do Brasil?. Para Lilian, um dos grandes benefícios da articulação em rede é a troca e a posterior construção de novos conhecimentos: ?um ponto importante é que o trabalho em rede provoca a multiplicação de idéias pelo debate constante a partir de diferentes experiências. Assim, você deixa de ser uma única instituição sozinha pensando em uma solução isolada, para reunir diversas mentes que procuram ações conjuntas?.

Uma vez que as instituições sociais que fazem parte da rede são organizações diferentes, para ampliar o impacto das ações é preciso uma articulação que busque soluções conjuntas, adaptáveis à realidade de cada instituição, como no caso da Rede ANDI (composta por 12 ONGs espalhadas pelo Brasil). No Terceiro Setor, cada vez mais se identifica a necessidade desta colaboração participativa como uma forma de alcançar transformações sociais positivas na sociedade, e o que é melhor, de forma conjunta.

A sociedade é uma rede

Foto: Arquivo pessoal

Augusto de Franco.

O conceito de rede não é aplicável somente às organizações sociais. É, na verdade, um conceito básico da democracia. A sociedade já é uma rede. Assim, todas as pessoas fazem parte da rede social, mas não percebem isso porque em todas as esferas da sociedade há hierarquia. Como afirma Augusto de Franco, da Rede Nan Dai (pessoas que cooperam entre si para desenvolver temas relacionados ao desenvolvimento social, redes sociais e democracia) e que, de 2001 a 2005, foi coordenador do Programa AED (Agência de Educação para o Desenvolvimento, vinculado à Unesco). ?A rede social não é uma forma de organização à qual as pessoas podem ou não aderir a partir de uma decisão. Querendo ou não todos nós estamos conectados a muitas redes (no âmbito da nossa convivência humano-social). Pessoas conectando-se com pessoas formam redes. É isso. Nada mais do que isso. Quando optamos conscientemente por organizar algum tipo de ação coletiva em rede, isso significa que estamos tentando imitar a organização básica da sociedade?.

A articulação em rede equivale ao exercício da democracia plena, portanto, não é uma inovação. Nos dicionários a palavra democracia significa ?o poder que emana do povo?, mas as instituições hierarquizadas (verticalizadas), descaracterizam a rede social.

?As principais dificuldades para se pensar em rede decorrem do padrão centralizado ou descentralizado que existe na sociedade, nas instituições, nas organizações. É a mesma dificuldade para se pensar a democracia na base da sociedade e no cotidiano do cidadão. A democracia é o organismo próprio de uma forma de rede distribuída?, explica Augusto de Franco.

Quem quiser se articular em rede e efetivamente exercer a democracia em seu dia-a-dia encontra várias possibilidades. Essa pessoa pode participar dos conselhos comunitários (que definem diretrizes orçamentárias, planos de educação, projetos de segurança, etc.), participar da associação de moradores do seu bairro, atuar em alguma organização social, votar conscientemente em candidatos do legislativo que você possa acompanhar o trabalho de perto são algumas iniciativas para que você se ?conecte? à rede que é a sociedade.

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