Tomate: de vilão a herói dos preços baixos. |
A cesta básica fechou o mês de outubro com variação negativa de 1,87% em Curitiba. Foi a segunda queda consecutiva – em setembro, a deflação havia sido de 3,44%. Tomate, batata e arroz foram os principais itens que pressionaram para baixo o índice. No acumulado do ano (janeiro a outubro), a cesta básica na capital paranaense apresenta alta de 2,34% e, nos últimos 12 meses, crescimento de 4,64%. Os números foram divulgados ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos, regional Paraná (Dieese-PR).
Entre as 16 capitais pesquisadas, Curitiba foi a que apresentou a décima maior queda. “O que temos verificado são tendências nacionais. Em agosto, houve uma alta generalizada, e agora, uma queda generalizada”, apontou o economista Sandro Silva, do Dieese-PR. Apenas uma (Belo Horizonte), apresentou índice positivo, de 1,63%.
O custo com alimentação essencial para uma família curitibana, composta por um casal e dois filhos, foi de R$ 488,76 – o equivalente a 1,90 salários mínimos. Já o custo para um único trabalhador foi de R$ 162,92. O salário mínimo necessário para suprir necessidades vitais como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, lazer, higiene, transporte e previdência social, conforme a lei que estabeleceu o salário mínimo no País, deveria ser de R$ 1.510,67, de acordo com cálculos do Dieese.
Itens
Entre os 13 itens que compõem a cesta básica, oito apresentaram queda em outubro, quatro apresentaram alta e um permaneceu constante. A queda mais expressiva foi verificada no tomate (-10,82%), com o quilo passando de R$ 1,94, em média, para R$ 1,73. Em setembro, o preço do produto já havia sofrido redução de 24,51%. Segundo Sandro Silva, apesar de a safra do Paraná ter começado a ser colhida no mês passado, é a oferta de outros estados, como Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, que vem influenciando no preço.
Outro produto que teve o preço reduzido foi a batata (-10,39%), com o quilo passando de R$ 1,54 para R$ 1,38. Assim como o tomate, o aumento da oferta, principalmente por parte de Minas Gerais e São Paulo, foi o principal fator. O arroz, que apresentou pequena alta em setembro, teve o preço reduzido em 6,49% em outubro – o quilo passou de R$ 1,85 para R$ 1,73. De acordo com Sandro Silva, o aumento da produção em quase 22% e o aumento do consumo em apenas 3% influenciou no preço do produto. Segundo o economista, caso os três itens que mais pressionaram a cesta básica – tomate, batata e arroz – não tivessem variado, a cesta teria apresentado ligeira alta de 0,06%.
Outros itens que apresentaram índices negativos foram a farinha de trigo (-5,66%) – por conta da boa safra tanto no Brasil como na Argentina e cotação internacional (commodity) em queda -, manteiga (-4,33%), banana (-2,84%), feijão (-1,99%) e óleo de soja (-1,45%). Na outra ponta, apresentaram aumento de preço o açúcar (2,56%), com o quilo passando de R$ 1,17 para R$ 1,20; pão (alta de 2,17%), carne (1,18%) e café (0,42%). O leite foi o único item que permaneceu com o preço constante.
No ano
No acumulado do ano (janeiro a outubro), a batata foi o produto que mais subiu na cesta básica em Curitiba (91,67%), seguida pelo tomate (40,65%) e açúcar (13,21%). As maiores quedas ficaram por conta do arroz (-13,93%), pão (-6,68%) e carne (-5,41%). Para o mês de novembro, a tendência, informou Sandro Silva, é de nova queda ou estabilidade, por conta da batata e do tomate. O preço da farinha de trigo também pode continuar caindo. “Um item que pode reverter esta tendência é a carne”, ponderou o economista, referindo-se ao produto que costuma sofrer aumentos no final do ano. Em dezembro passado, por exemplo, o quilo do coxão mole subiu 9%.
Curitiba tem a 7.ª mais cara
Em outubro, Curitiba apresentou a sétima cesta mais cara do País, entre as 16 capitais pesquisadas. O conjunto dos itens básicos de alimentação somou R$ 162,92 no mês. A cesta mais alta foi verificada em Porto Alegre (R$ 179,82), seguido por São Paulo (R$ 177,14) e a mais baixa em Recife (123,81).
Com a queda de preços apurada em outubro, quatro capitais acumulam de janeiro a outubro variação negativa para o valor da cesta básica: Aracaju (-4,77%), Recife (-4,54%), Salvador (-3,82%) e Fortaleza (-0,26%). Em setembro, apenas uma localidade – Aracaju, com -0,43% – registrava variação acumulada negativa nos nove meses de 2004. Os maiores aumentos, em dez meses, foram verificados em Belo Horizonte (12,07%) e Florianópolis (11,89%).
Cesta x jornada
Para adquirir o conjunto de alimentos básicos, o trabalhador que ganha salário mínimo, na média das 16 capitais pesquisadas, precisou cumprir uma jornada de 127 horas e 45 minutos. No mês anterior, a mesma compra exigia a realização de 131 horas e 3 minutos e, em outubro de 2003, necessitava 129 horas e 52 minutos. O mesmo comportamento é verificado quando se compara o custo da cesta com o salário mínimo líquido, ou seja, após o desconto da parcela referente à Previdência. Em outubro, na média das dezesseis capitais, o custo da cesta representou 62,88% no salário líquido, valor inferior ao necessário em setembro (64,50%) e em outubro do ano passado (63,92%).