Os principais títulos da dívida externa do Brasil atingiram ontem o seu menor preço em 4 meses. Os investidores se livram de parte dos papéis do País e correm para outras aplicações. Esse movimento foi detonado pela recente alta do rendimento pago pelos títulos do Tesouro dos EUA. Isso provoca medo de possível fuga de capitais dos países emergentes, como o Brasil.
Pela primeira vez desde novembro, o C-Bond foi cotado abaixo de 100% do seu valor de face. Neste mês, o papel já acumula queda de mais de 2% e foi negociado ontem pela manhã por 99,50% do seu valor de face. O Global 40 tem baixa de 0,53% e está em 111,80% do seu valor de face, também o pior desempenho desde novembro.
Em fevereiro, o preço do C-Bond foi inflado pelos investidores, alcançando quase 103% do seu valor de face. Havia a expectativa de que o governo faria o resgate antecipado do papel em abril. Mas o Tesouro descartou essa opção, na semana passada.
A queda do C-Bond e de outros títulos da dívida externa, como o Global 40, ajuda a impulsionar o risco Brasil, que subiu na semana passada para o quinto lugar no ranking dos emergentes, superando as Filipinas.
Ontem o risco avançava 1,86% marcando 438 pontos. Os investidores estão cautelosos. Hoje, será anunciada a decisão do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) sobre os juros, atualmente fixados em 2,50%.
Os analistas esperam uma nova alta da taxa (a sétima consecutiva) em 0,25 ponto percentual. Mais relevante será o tom da nota do Fed, que poderá sinalizar elevação mais forte dos juros em breve.
Futuros aumentos de 0,50 ponto percentual nos juros americanos – o que deixaria os rendimentos dos títulos do Tesouro ainda mais atrativos – tendem a provocar uma onda de venda dos papéis dos emergentes.
Com a expectativa de maior fluxo de capital para os EUA devido ao maior rendimento dos seus títulos, o dólar voltou a se recuperar frente ao euro e ao iene. A moeda européia – que na sexta passada estava na casa de US$ 1,33, recuou ontem para um nível abaixo de US$ 1,32.
O rendimento (?yield?) do título do Tesouro americano de dez anos está em 4,52%, acima da taxa da última sexta-feira (4,51%). Analistas dizem que esse juro pago pelo papel dos EUA – considerado de risco zero – atrai compradores, que passam a reduzir o dinheiro aplicado em ativos (títulos, ações e outros) de países emergentes.
Neste mês, já rebaixaram recomendações para os títulos brasileiros instituições financeiras como Merrill Lynch (EUA) e Deutsche (Alemanha). Este último citou também uma piora do quadro político do Brasil, após a derrota do governo Lula na eleição da presidência da Câmara.
Na prática, um patamar mais elevado do risco-país desestimula empresas e bancos que tomam dinheiro emprestado no exterior, pois esse indicador serve para balizar o custo dos financiamentos, como nas captações de recursos por meio da emissão de bônus.
Dívida fechou 2004 em US$ 201 bi
A dívida externa total caiu US$ 13,5 bilhões entre dezembro de 2003 e dezembro de 2004, e fechou o ano em US$ 201,374 bilhões, de acordo com dados divulgados ontem pelo Banco Central. Em 2003, o débito somava US$ 214,930 bilhões.
Houve queda também em relação à última medição divulgada pelo BC, em setembro do último ano. No período, a dívida caiu US$ 813 milhões.
Da dívida verificada em dezembro, US$ 182,630 bilhões têm vencimento no médio e longo prazo. Os outros US$ 18,744 bilhões são de curto prazo.
De acordo com o Banco Central, na dívida de médio e longo prazo, US$ 24,9 bilhões correspondem ao endividamento junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
Os números do BC excluem os empréstimos entre empresas, que passaram a ser classificados pelo Banco Central (BC) como investimentos diretos. Esses empréstimos estavam com saldo de US$ 18,808 bilhões em dezembro.