Em ano de eleições presidenciais, o Tesouro entrou em 2010 com um seguro extra para enfrentar instabilidades que possam ocorrer no mercado financeiro por causa do período de campanha – ou até mesmo incertezas ainda decorrentes da crise internacional. O chamado “colchão de liquidez” – dinheiro depositado na conta corrente do governo que só pode ser utilizado para pagamento de títulos públicos – praticamente dobrou. Essa reserva hoje é suficiente para pagar os vencimentos de títulos por seis meses.
Tradicionalmente, os recursos do colchão oscilam em torno de três meses de vencimentos de papéis da dívida pública federal. “O colchão nos garante uma situação confortável”, afirmou Paulo Valle, subsecretário de Política Fiscal do Tesouro. Valle evitou falar em números, mas um cálculo simples, com base no cronograma de vencimentos, indica que o montante supera os R$ 200 bilhões.
Apesar do volume recorde no colchão, o discurso do subsecretário é de que o Tesouro não prevê instabilidade no mercado por causa da campanha eleitoral. “A eleição não é mais uma preocupação para o financiamento da dívida.” Por motivos estratégicos, o Tesouro não faz comentários sobre a formação e uso do colchão. Em 2002, quando o presidente Lula disputou as eleições com o atual governador de São Paulo, José Serra, a economia brasileira viveu um período de forte turbulência que trouxe grandes dificuldades para a rolagem da dívida. Na época, o governo teve de usar parte do colchão, que era suficiente para garantir pagamentos por três meses.
Com o caixa reforçado, o Tesouro tem bala na agulha para, em momentos de turbulência, se dar ao luxo de não renovar (refinanciar) os papéis que estão vencendo. Com isso, evita pagar taxas de juros mais salgadas que venham a ser pedidas pelos investidores ou emitir papéis com prazo muito curto de vencimento. Por isso, o colchão acaba tendo para o Tesouro função semelhante à das reservas internacionais para o Banco Central no confronto com o endividamento externo – um antídoto contra especulação.