O coordenador-geral de operações da Dívida Pública, Leandro Secunho, explicou nesta segunda-feira, 26, que o resgate líquido de R$ 56 bilhões na Dívida Pública Mobiliária Federal interna (DPMFi) em janeiro é usual para o período, devido à concentração de vencimentos de papéis no primeiro mês do ano. Em janeiro, as emissões de títulos somaram R$ 51,4 bilhões, enquanto os resgates totalizaram R$ 107 bilhões.
“Em janeiro houve um vencimento grande de prefixados, que será o maior para o ano. Em janeiro ocorreu 29% dos vencimentos desses títulos previstos em 2018”, acrescentou Secunho.
De acordo com Secunho, a emissão de LTNs – títulos prefixados sem cupom de juros – em janeiro com vencimentos de 24 e 48 meses ficou um pouco abaixo do usual para os dois papéis. Isso ocorreu, segundo ele, devido à mudança da data de vencimento desses títulos emitidos a partir do mês passado, mas também devido à realização de um leilão menor no dia do julgamento do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva na segunda instância.
“Quando o Tesouro passa a emitir papéis com novas datas de vencimento, é natural cair a demanda, pois são títulos novos com menor liquidez. Além disso, na expectativa do julgamento do ex-presidente Lula fizemos um leilão menor de prefixados para evitarmos acrescentar mais volatilidade ao mercado”, explicou.
Secunho destacou ainda que as NTN-Fs – papéis prefixados com cupom de juros – de seis e dez anos têm apresentado boa demanda por parte dos investidores. Esses papéis representaram em média 10% das emissões da DPMFi em 2017, mas chegaram a 18% dos títulos emitidos em janeiro.
Previdência
A não aprovação da reforma da Previdência teve “pouco impacto” nos preços da dívida pública em um primeiro momento, mas terá no médio e longo prazos, prevê Secunho. “Os investidores estão vendo como uma agenda que, não sendo votada agora, precisa continuar na pauta até 2019. É um problema que necessariamente será endereçado”, afirmou.
Secunho ressaltou que toda a “perspectiva fiscal” será impactada sem a reforma da Previdência que, no caso da dívida pública federal, haverá um aumento no volume e uma piora na composição, com um crescimento na fatia de títulos com maior risco, como os atrelados à taxa Selic. Ele acredita que os primeiros reflexos da não aprovação da reforma serão sentidos no prazo de três a cinco anos.
Medida do CMN
O coordenador-geral de operações da Dívida Pública explicou que parte da redução da participação do grupo Previdência no estoque da DPF em janeiro ocorreu em função de expectativas de mudanças regulatórias que foram decididas na última semana pelo CMN.
Na última quinta-feira, o colegiado decidiu por extinguir em até dois anos prazo médio de repactuação mínimo (PRC) de 24 meses exigido aos fundos de investimento especialmente constituídos (FIEs) de seguradoras ou entidade abertas de previdência.
A exigência do PRC não considerava os derivativos, o que possibilitava que um título prefixado conjugado com derivativo – os chamados “pré casados” – acabasse sendo computado apenas pelo prazo do papel. Isso levou a uma distorção no final da curva pela maior demanda por vencimentos de longo prazo – já que esses papéis conseguiam atender simultaneamente à exigência do PRC com baixa volatilidade.
Em janeiro, a fatia do grupo Previdência na DPMFi caiu de 25,46% para 24,98%. Em volume financeiro, a participação recuou de R$ 874,56 bilhões para R$ 850,54 bilhões.
“Parte do resgate do grupo previdência aberta em janeiro decorre dessa mudança. Essas entidades procuravam título prefixado conjugado com derivativo para evitar volatilidade. O fim dessa possibilidade foi anunciado em fevereiro, mas já havia essa expectativa de mudança em janeiro”, explicou Secunho.
Segundo ele, esses fundos têm uma carteira com volume significativo, de cerca de R$ 700 bilhões. “Como o grupo já realizou uma venda relevante de títulos prefixados em janeiro, algumas distorções foram corrigidas. O impacto vem sendo minimizado ao longo dos últimos dois meses, por isso não devemos notar nenhum movimento abrupto, até porque o fim do PRC terá uma transição de dois anos”, completou.
Inclinação da curva de juros
O coordenador-geral de operações da Dívida Pública destacou que a curva futura de juros perdeu inclinação já na última sexta-feira, após a decisão do CMN. “Já houve uma queda na inclinação da curva. As taxas de contratos mais longos caíram mais que as dos contratos mais curtos. Outra distorção era que as NTN-Fs vinham sendo negociadas a taxas negativas. Continua negativa, mas está menos negativa que antes”, afirmou.
Segundo ele, o impacto da medida do CMN sobre a inclinação da curva de juros deve ser mais suave de agora em diante. “Só a expectativa da mudança, que tem uma transição de dois anos, já gerou uma correção importante no primeiro dia. Não esperamos movimentos abruptos. A curva obviamente continuará variando por diversos fatores, mas essa distorção que havia está praticamente estabilizada”, completou.