Tesouro anuncia que comprará dólares

O Tesouro Nacional irá comprar no mercado até US$ 4,963 bilhões para honrar compromissos da dívida externa, que vencem no segundo semestre deste ano, de acordo com o diretor de Política Econômica do BC, Afonso Sant?anna Bevilaqua. No entanto, o diretor não informou quanto desse valor já foi contratado. Isso porque o Tesouro pode fazer a contratação desses recursos até seis meses antes do vencimento da operação.

O dinheiro será utilizado para o pagamento de bônus da dívida (principal mais juros) que têm vencimento entre julho e dezembro deste ano.

Inicialmente, o Tesouro iria adquirir neste ano até US$ 4,533 bilhões para pagamentos ao Clube de Paris e da chamada ?dívida velha?, que inclui títulos (bradies e pré-bradies) emitidos no início dos anos 90 durante a renegociação da dívida externa de países emergentes com problemas para honrar seus compromissos.

Com a previsão de comprar dólares para efetuar o pagamento de bônus (?dívida nova?), essa cifra sobe para US$ 9,497 bilhões neste ano, sendo US$ 4,963 bilhões no segundo semestre.

Segundo Bevilaqua, esse aumento na previsão de compras do Tesouro ocorreu ?basicamente pela melhora nas condições de balança de pagamento?. A expectativa de um saldo na balança comercial melhor que o esperado, o aumento dos investimentos estrangeiros e as captações externas do governo contribuíram para essa melhora.

Quando o Tesouro não compra divisas no mercado, o dinheiro para pagar os compromissos da dívida externa sai das reservas internacionais.

O diretor ressaltou ainda que a ampliação dessas compras por parte do Tesouro não altera a intenção do BC de comprar dólares no mercado para aumentar as reservas internacionais. Ele disse que isso irá ocorrer quando as condições de mercado forem adequadas.

?Se as condições fossem adequadas, neste momento nós estaríamos comprando?, disse.

Para comprar divisas no mercado, o BC procura não alterar as condições de liquidez, não adicionar volatilidade e não interferir na tendência da taxa de câmbio.

Inflação será maior e crescimento menor em 2005

O aumento de preços maior que o previsto no início deste ano e a desaceleração da economia fizeram com que o Banco Central passasse a prever uma inflação maior e um crescimento menor da economia em 2005. A autoridade monetária elevou de 5,5% para 5,8% a previsão de inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) neste ano. Ao mesmo tempo, reduziu de 4% para 3,4% a expectativa de aumento do PIB (Produto Interno Bruto), segundo o Relatório de Inflação divulgado ontem.

O BC atribui a piora do cenário econômico a suas decisões de elevar a taxa básica de juros da economia – a Selic subiu nove vezes seguidas entre setembro e maio, atingindo os atuais 19,75% ao ano. ?Previsivelmente, tornam-se claros os sinais de que se fazem sentir sobre o nível de atividade os efeitos do ciclo de aumento da taxa de juros básica iniciada em setembro de 2004?, diz o documento.

O BC, no entanto, eleva os juros para deixar o crédito mais caro e controlar a inflação. Esse movimento da alta das taxas levou a uma queda dos investimentos e um consumo menor.

Apesar do aumento dos juros, a previsão de inflação do BC está acima do objetivo da instituição, que é um IPCA de 5,1% neste ano.

?A trajetória da inflação dependerá, marcadamente, dos desenvolvimentos correntes e prospectivos no tocante à ampliação da oferta de bens e serviços para o adequado atendimento da demanda em expansão.?

Atividade

Para o BC, a acomodação do ritmo de crescimento é natural devido ao desempenho do PIB no ano passado – em 2004, a economia cresceu 4,9%.

?O arrefecimento transitório da atividade produtiva, após alcançar patamar elevado historicamente, constitui aspecto favorável à perspectiva de crescimento sustentável, em cenário de estabilidade de preços.?

A autoridade monetária lembra ainda a importância do setor externo para a economia brasileira.

?No âmbito externo, o crescimento da economia mundial mantém-se como principal fator de dinamismo das exportações, compensando eventuais efeitos decorrentes da recente apreciação cambial. No cenário interno, a evolução do consumo tem sido influenciada pelos mecanismos de autopropagação da renda – emprego e rendimento real – e tende a sustentar-se em patamar alto, a despeito da discreta queda registrada pelas contas nacionais no primeiro trimestre deste ano, após seis trimestres ininterruptos de crescimento?, ressalta o relatório.

As previsões do BC foram feitas tendo com base a atual taxa de juros e um dólar cotado a R$ 2,47. Com esse mesmo cenário, a expectativa do IPCA para o próximo ano caiu de 3,8% para 3,7%.

Já no cenário de mercado, que leva em conta as previsões do boletim Focus, a previsão de inflação para este ano passou de 6,1% para 6,3% e para o ano que vem, de 4,8% para 4,7%.

Crise política não afeta a economia

O diretor de Polícia Econômica do BC, Afonso Bevilaqua, disse que a crise política não provocará redução nos investimentos no País. Com o cuidado de não mencionar diretamente os escândalos de corrupção que envolvem o PT e dois partidos da base aliada do governo Luiz Inácio Lula da Silva, Bevilaqua sustentou que esses episódios e a incerteza política ?são normais? e ?inerentes? a qualquer sociedade democrática e que não deverão ser considerados nas decisões de investimento.

?No nosso entender, esses efeitos da crise política sobre os investimentos não devem se materializar?, declarou. ?Quando os fundamentos econômicos são sustentáveis e as instituições políticas são sólidas, o que prevalece nas decisões de investimento são as condições macroeconômicas.? O diretor reconheceu que, ao elaborar as previsões para a economia contidas no Relatório de Inflação, o Banco Central não ?contabilizou? as incertezas criadas pelo ambiente político nas últimas semanas. A rigor, os cálculos para o ano baseiam-se nos resultados da economia no primeiro trimestre. Como justificativa, Bevilaqua voltou a bater na tecla de que, nas decisões de investimentos, deverão prevalecer os fundamentos econômicos sobre as avaliações políticas.

Compulsório deve cair no curto prazo

O recolhimento de compulsório no País é elevado e deveria cair no médio prazo. Essa é a avaliação do diretor de Política Econômica do Banco Central, Afonso Sant?anna Bevilaqua. ?Quando você olha para os compulsórios no Brasil eles são ainda bastante elevados. Se você olhar para o médio prazo, nós deveríamos ver uma redução dos compulsórios?, disse.

O recolhimento compulsório é feito pelos bancos e o dinheiro fica com o BC. A alíquota de recolhimento é de 53% para os depósitos à vista e de 23% para os depósitos a prazo.

De acordo com ele, o BC não considera que os recolhimentos devam ser usados no combate à inflação.

?Os compulsórios certamente afetam, mas nós não vemos isso no quadro atual como um instrumento a ser utilizado?, avalia.

Segundo ele, a taxa de juros já é suficiente como instrumento de combate a inflação e não precisa de complemento. ?A taxa de juros está cumprindo com o seu papel exatamente da forma que deveria cumprir como instrumento de controle da inflação.?

Para controlar a inflação, o BC elevou por nove meses consecutivos – de setembro a maio – a taxa básica de juros da economia, a Selic, que hoje está em 19,75% ao ano.

Na avaliação do diretor, as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a necessidade de se encontrar novas formas de combate à inflação foram dirigidas a toda sociedade, que deve ?buscar sempre formas de aumentar a eficiência do País de tal maneira para que a política monetária tivesse custos menores?.

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