Aumentou o número de brasileiros que ficam mais tempo na fila do desemprego. O grupo de quem está há mais de um ano à procura de recolocação profissional saltou de 12,8% do total de desocupados, em abril do ano passado, para 17,4% em abril deste ano. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), embutidos na Pesquisa Mensal de Emprego (PME), e foram consolidados em uma série histórica pelo Banco Central. Na prática, avaliam especialistas, a tendência reflete uma economia menos dinâmica e um mercado de trabalho que começa a perder a robustez.
Esse fenômeno, dizem, antecede o achatamento de salários, transforma o trabalhador em alguém “menos empregável” por perda de qualificação e expõe um problema da economia: a geração de postos de maior qualificação estagnou e mesmo o surgimento de vagas com menores exigências ocorre em ritmo aquém do necessário para absorver a mão de obra.
Esse dado sobre o tempo de espera em busca de emprego é parte do questionário que o IBGE usa ao pesquisar a taxa de desemprego. E tem correlação com o Caged, que há alguns meses mostra aumento do fechamento de postos e um ritmo de criação de vagas mais tímida. Esse recorte também tem relação com o nível da atividade: se a economia está mais fraca, quem busca trabalho demora mais tempo para se recolocar. O nível de investimentos no País também influencia os números: se os projetos não saem da gaveta, não são abertas vagas e o desempregado demora mais para se recolocar.
É o caso de Fábio Leonel, de 34 anos, que no último dia 1º completou um ano desempregado. Radialista, ele permaneceu oito anos em seu último trabalho, onde atuava como locutor e produtor. “Fui em quase todas as rádios de São Paulo entregar piloto. Depois fui para Santos e até para o interior.” Em todas as tentativas, ouvia das empresas que não estavam com vagas abertas. “Tenho muita vontade e procurei muito, mas o que falta é oportunidade”, diz Leonel. “Acho que é o momento do mercado misturado com um pouco de má sorte.”
Após tantas negativas, Leonel decidiu investir em outra área. “Como eu já tocava, comecei a fazer alguns bicos como DJ e produtor”, diz. “Tenho vontade de voltar para rádio, é o que eu gosto de fazer; mas vou investindo nessa área artística enquanto isso. Tenho uma filha, não posso ficar parado.”
Diagnóstico
Especialistas apontam a fraqueza da economia e o adiamento de investimentos como motivos principais para esse fenômeno. “A economia está gerando pouco emprego. O baixo crescimento do País afetou o mercado de trabalho”, avalia José Márcio Camargo, professor da PUC-RJ e economista-chefe da Opus Investimentos.
Apenas em junho, o comércio fechou 7.070 vagas, apontou o Caged. A construção civil acabou com 12.041 vagas e a indústria de transformação, com 28.553. Enquanto o grupo que está há mais de um ano à procura de trabalho cresceu, a fatia dos que ficavam menos tempo na fila do desemprego encolheu. Nos quatro primeiros meses de 2013, a fatia da população desempregada à procura de recolocação era, em média, de 24,36%. Em igual período de 2014, a taxa caiu para 22,68%.
O mesmo ocorreu com os que esperavam entre 31 dias e 6 meses: esse grupo recuou de 56,13% dos desocupados para 52,55%. Esse índice que deixou as filas mais rapidamente teria migrado para aquelas de maior duração. “Quanto mais tempo a pessoa fica fora do mercado mais difícil será para ela se recolocar”, diz Camargo.
Procurado pela reportagem, o IBGE informou que ainda não conseguiu estudar os motivos do aumento no grupo de brasileiros que ficam mais tempo à procura de emprego, tampouco seu perfil, como idade e sexo. Colaborou Anna Carolina Papp. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.