O temor de continuar a subir os juros e levar o Brasil a uma recessão foi um forte motivo para o Banco Central ter parado, na semana passada, o ciclo de aperto monetário iniciado em abril de 2013, comentou ao Broadcast, serviço de informações em tempo real da Agência Estado, Tony Volpon, diretor de pesquisas para a América Latina da Nomura Securities. “A principal novidade da ata da reunião do Copom de maio foi o BC reconhecer que a economia está muito fraca”, destacou.
“O documento ratifica que o BC tem mandato duplo. O PIB muito baixo prevaleceu sobre a inflação, que nas suas projeções está fora da meta até o final de 2015”, ponderou. O especialista avalia que o crescimento do País será de 1% neste ano, depois de ter subido 2,5% em 2013. “O BC não tem como foco levar a inflação para a meta de 4,5%, mas viabilizar uma tendência de queda do IPCA na direção desse objetivo, dentro do horizonte relevante para a política monetária”, destacou Volpon.
“Neste contexto, ele manifestou que apenas vai combater os efeitos secundários da defasagem dos preços administrados em relação aos livres”, disse. Isso significaria que o Banco Central, na prática, prefere aguardar a adequação dos preços administrados para níveis mais próximos dos que seriam “realistas”.
Para muitos especialistas, o controle feito pelo governo sobre esta categoria de preços provoca pelo menos um represamento de 1,5 ponto porcentual do IPCA. “Ou seja, o BC sinaliza que não adianta aumentar ainda mais os juros, pois tal ação vai afetar bem mais os preços livres, quando o problema maior está nos administrados”, disse.
De acordo com Volpon, um outro fator que chamou a atenção é o BC destacar que a confiança dos empresários e consumidores está baixa, o que vai potencializar a ação da política monetária nos próximos meses. Como a demanda agregada apresenta um fraco ritmo, ele acredita que os efeitos defasados da alta dos juros de 7,25% para 11,0% desde abril de 2013 vai ainda ter mais força sobre o nível de atividade no curto prazo. E esta constatação dá razão para o Banco Central de ter interrompido a alta de juros na semana passada.
Na avaliação do diretor da Nomura Securities, outro elemento relevante da ata foi o BC ter considerado uma projeção de R$ 2,20 no câmbio para realizar suas estimativas para o IPCA nos cenários de referência e de mercado citadas no documento. Nos últimos dias, contudo, a cotação do dólar subiu abruptamente, o que levou o governo a agir rápido e reduzir de um ano para 6 meses o prazo médio mínimo das captações externas que terão incidência de alíquota zero de IOF. “Talvez o câmbio de R$ 2,20 foi o principal fator que provocou a queda das projeções da inflação manifestadas neste documento do Banco Central.”